Leitor

Falemos então de amor. E quando falo ou penso em amor lembro-me de ti. Talvez por teres sido quem mais amei até hoje. Talvez por teres sido, só, quem amei.
Podias ter-me pedido para ir ter contigo até ao fim do mundo, onde todos os tempos corriam mais devagar e as pessoas não são o que parecem. Eu ter-te-ia descoberto de qualquer das maneiras, teria ido sim, buscar-te para te ter, durante todos os tempos que nos restassem. Mas isto sou eu a sonhar, porque já não estás aqui, já estiveste e os nossos tempos terminaram como os verões solarentos, que dão lugar a outonos frios e solitários, antes das árvores se despirem e o frio nos gelar os ossos. E se calhar é por isso que quando não tenho vontade de estar com mais ninguém, procuro-te e arranjo sempre tempo para ti, para estarmos juntos. E eu também sei que poderia ser tu, porque sei amar e sofrer da mesma forma, porque sei que ambos temos nos olhos um brilho de criança e um coração igual, um bocado maior que o habitual. Gostei imenso que tenhas feito parte dos meus dias, gostei de fazer parte dos teus e gostei ainda mais de ter sentido que poderia ter sido para sempre. Não acontece com todas as pessoas, mas sabes? De repente tudo pode acontecer, basta um instante e as pessoas cruzam-se por acaso para nunca mais se separarem, e é então que percebemos que nada é por acaso, que afinal estar naquele sítio, àquela hora, era apenas uma maneira de nos aproximarmos e ficarmos mais ricos, mais cheios, mais felizes e melhores. Sempre pensei que já sabias que ia ser assim, tinhas o sorriso dos sábios e o olhar dos adivinhos, e eu nunca soube. Por isso saboreei o presente com o presente que a vida me deu, o teu amor, a tua atenção, a tua estima, a tua lealdade e preocupação. Nunca irei esquecer tudo o que senti, cada vez que olhava para ti, via sempre além desses olhos de puro paraíso líquido, emoldurados de pestanas negras e grossas. Agora quero-te nos meus braços, sentir o calor do teu corpo, calor esse que aquece uma alma fria, minha primavera luminosa. Sempre foste o meu céu em pleno inferno. És uma pessoa a quem a vida nem sempre reservou coisas bonitas, muito pelo contrário, sempre te atirou areia para os olhos. Tu, com essa carinha de miúdo mas alma de homem grande, nunca te deixaste vencer e mostraste-te mais forte que todos os obstáculos e barreiras. Sempre amaste o que tiveste e lutaste para amar o que não tiveste. Sempre soubeste o que dizer e quando o dizer, tens o sorriso mais bonito que alguma vez vi e contagias toda a gente com a tua alegria. Eu marquei-te e tu marcaste-me de uma maneira irreversível. Nunca temos fim porque os amores nunca acabam, transformam-se sempre em outra forma de amor. Um amor mais calmo e sereno, passivo mas cheio. Um amor sem cobranças nem malícia, sem vinganças nem ciúmes. Um amor tão amor que deixa que outros amores existam. Um amor tão eterno que deixa que sejamos felizes mesmo que seja com outras pessoas, porque o amor é generoso e quer sempre o melhor para quem ama.
Dir-te-ia que és o amor da minha vida, por mais amores que vivamos os dois, porque seremos sempre um do outro, teremos sempre a atenção e o pensamento um do outro, por mais que as nossas vidas sigam caminhos diferentes. E um dia irei contar aos meus netos o quanto fui feliz, o quanto me marcaste e eles não irão acreditar que não ficámos juntos para sempre. E eu vou sorrir, porque sei que ficámos sempre juntos. No coração um do outro.

Feliz dia de São Valentim.

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