Leitor

march on.



Não faz assim tanto tempo que eu ouvi alguém dizer uma grande verdade: “Há uma altura na vida em que tens que abrir mão do selvagem dentro de ti para manter amigos, empregos e constituir família. Ou podes escolher ser um louco e viver sozinho. É triste saber que não pude fazer nada. Que, ao longo de todo este tempo, não ganhei o direito de fazer alguma coisa. De me manifestar. De exercer sequer um bocadinho de bom senso nessa tua cabeça dura. É triste quando amigos se tornam inimigos, mas o pior é quando eles se tornam desconhecidos. É triste realidade constatar, que entre ditos amigos, a falta de utilidade da amizade começa com a contínua escassez do que dizer. Fui perdendo as palavras porque já não me conseguias ouvir. Porque, na tua incompreendida maneira de ser, eu é que estava sempre errada. E eu sei, eu sei que irei perder amigos, decepcionar admiradores, ganhar desafetos e críticos, mas pelo menos poderei lavar as minhas mãos e ficar de consciência tranquila de que nunca te falhei. Eu nunca te faltei. E a única coisa que não vou perder é a minha alma. Fiel à minha consciência eu sou fiel àquilo que te chamei um dia. E por mais que todas as terapias do mundo, todas as distrações possíveis, todas as auto-ajudas do universo e todos os amigos experientes do planeta me digam que eu não preciso definitivamente de ti, a minha alma grita aqui dentro que, por mais feliz que eu esteja, a felicidade é sempre pela metade. E sabes que mais? Eu preferia morrer tua amiga do que quebrar algum elo misterioso que nos unia e perder-te para sempre. Perder-te como sempre. Às vezes tenho vontade de te perguntar baixinho se não gostas nem um bocadinho de mim. Um bocadinho que seja. Tu deslumbravas-me sempre. De todas as vezes que eu te via, deslumbravas-me sempre. E no fundo o que me tem consolado ao longo de todo este tempo é o facto de que os amigos não traem nem decepcionam. Na casa da decepção se não dormir um amigo, dorme um irmão.
O mais triste é mesmo quando descobrimos que aqueles que se diziam nossos amigos, nos esquecem na primeira oportunidade. E justamente quando tinham em mãos a maior oportunidade de provar sua amizade. A intensidade da decepção é proporcional à amizade, ao afecto, ao amor e ao carinho que se tem por quem lhe proporcionou tal dor.
(...)
Não há motivos para tristeza no final de uma amizade que nunca existiu de ambos os lados.











Eu acho que perdemos muito tempo a pensar no que é que não somos suficientes. No porquê de não sermos bons que chegue. Perdemos muito tempo a pensar demasiado, a analisar demasiado. Perdemos muito tempo a colocar-nos para baixo, tanto que, bem, não percebemos que somos bons que chegue. Que somos suficientes. Passamos tanto tempo com a cabeça em baixo e o coração fechado e nunca aproveitamos a oportunidade de olhar para cima e ver que o sol continua a brilhar e que amanhã é outro dia.
Comecei a mentir por precaução, e ninguém me avisou do perigo de ser tão precavida; porque depois nunca mais a mentira foi embora. E tanto menti que comecei a mentir até a minha própria mentira. E isso - já atordoada eu sentia - isso era dizer a verdade. Até que decaí tanto que a mentira que eu dizia era crua, simples, curta: eu dizia a verdade bruta.
Essas pessoas acham que eu nunca tentei, ou se tentei, não fui o suficiente, tudo bem. Posso não ter sido, mas se houve risos e momentos felizes, houve felicidade? Pois é, e eu fico perdida nesse mar de dúvidas, e até de solidão, seria mentira dizer que ao colocar a cabeça na almofada não és tu que me à mente.