Leitor

battle cry

Don’t grieve. Anything you lose comes round in another form.


Perder alguém não é um acto isolado. É uma sucessão. Perde-se todos os dias. Todas as horas.
Perco-te todos os dias em que tu não estás. Perco-te sempre que me faltas. Perco-te de novo em cada lembrança. P
erco-te quando não falamos. Quando acordo, encadeada com o sol que entra pela janela e, ao procurar o meu telemóvel, a esperança morre por querer ler uma mensagem que não está lá. Eu perco-te nos momentos do entretanto, nas horas de silencio, onde eu não faço mais senão pensar em ti. Perco-te quando vejo determinados filmes, quando ouço certas músicas, quando vou a certos lugares que estão preenchidos com partes tuas e com memórias de como me fazias sentir. E dói tudo como se fosse a primeira vez.
Eu costumava pensar que não sobreviveria um dia sem o teu sorriso. Sem te dizer qualquer coisa e ouvir a tua voz como resposta. Depois, esse dia chegou e foi brutalmente difícil, mas o seguinte foi pior. E soube, com um sentimento profundo, que iria ficar pior e que eu não estaria bem por longo tempo. Pensava que só podia sentir a tua falta quando estivesse sozinha, mas isso não é verdade. Eu sinto a tua falta até quando estou rodeada de pessoas. Porque elas não são tu. Mas tu estás sempre lá... em algum lado. Não consigo não pensar em ti.
Porque perder alguém não é uma ocasião ou um ponto no tempo. Não acontece uma vez. Acontece uma e outra vez. Eu perco-te todas as vezes que agarro na tua caneca preferida; sempre que oiço o teu nome na boca de outra pessoa ou quando descubro a tua t-shirt velha no fundo da pilha de roupa para lavar. Eu perco-te todas as vezes que penso em beijar-te, abraçar-te ou querer-te. Eu vou para a cama à noite e perco-te, quando desejava poder contar-te o meu dia. E de manhã, quando acordo e encontro o vazio entre os lençóis, eu começo a perder-te novamente desde o início.

O tu não estares é eu não estar em mim. O tu não estares leva-me de mim. Tens o meu pensamento contigo. Tens o meu sorriso contigo. A tua ausência sufoca-me e enrola-me em mim. A tua falta é eu faltar em mim. É ausentar-me daqui e estar aí. Faço-me falta aqui. Fazes-me falta em mim.
 (...)
A maioria das pessoas tem medo de estar mal. Tem aversão às lágrimas e à dor. Não se permitem ir lá abaixo pois têm medo de lá ficar. Vivem uma vida morna. Nem boa, nem má. Sem altos, nem baixos. Sem lágrimas, mas também sem gargalhadas. Normal.
Eu tenho medo do normal. Deixem-me chorar sozinha. Sei que quando conseguir me vou rir. Deixem-me curtir a minha dor, depois eu partilho as minhas alegrias.
Permitam-me quebrar. Chorar. Espernear. Gritar.
Assim. Parada. Literalmente em modo suspenso enquanto tu não vens. Com a vida em modo de pausa. Quieta. Calada. Imperturbável. Demoras? Por favor. Um dia, eu juro que te entendo por completo. Que te consigo ler todas as entrelinhas. Que consigo discernir o que vai dentro das tuas ideias mais recônditas. Hoje percebo o quão perdido nos teus pensamentos estás. Quão ausente de ti mesmo. Quão abominavelmente chateado te encontras.
(...)
Mas por agora... apetecia-me acordar contigo. Assim, devagarinho e à média luz. Enquanto me tomas nos teus braços e me dizes coisas bonitas. Enquanto me dás beijos intervalados com sorrisos. Ficar deitada a olhar para o mar que trazes nos teus olhos, enquanto me falas do que não sei. Fechar os olhos e quando os voltar a abrir, ainda aqui estares. Com o pequeno-almoço. Sumo de laranja e torradas. Com imensa manteiga, por favor.
Hoje, tal como ontem, apetecia-me ter acordado contigo.
Porque há coisas que não sei explicar. Que não quero sequer entender ou definir. Que sei que são sentidas e pronto. E o que se sente, pode estar para lá da razão, mas está sempre dentro de nós. 

Inexplicavelmente. Indefinidamente. Infinitamente.








     




Eu sou muito otária. Ou masoquista. Ou ambas as coisas. Sempre a tentar descobrir uma maneira diferente de me foder à grande. E o pior, ou melhor, é que consigo sempre surpreender-me. Fosse assim com tudo o resto, e seria uma mulher bem melhor.