Leitor

Morning stars in your eyes.



Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar mas que fazia de mim um tripé estável. Eu perdi a minha terceira perna. E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a ter o que nunca tive: apenas as duas pernas. Sei que só com as duas pernas é que posso caminhar, mas a ausência inútil da terceira faz-me falta e assusta-me, era ela que fazia de mim uma coisa palpável por mim mesma, e sem sequer precisar de procurar.
Maior que o problema de sentir que perdi a minha terceira perna, é saber que nada muda no mundo quando tu não caminhas ao meu lado, as pessoas quase não percebem que falta metade do meu corpo e que eu não posso ser muito simpática porque toda a minha energia está concentrada para eu não cair. Estou tão assustada que só poderei aceitar que me perdi se imaginar que alguém está a dar-me a mão. Porque para algumas pessoas, de uma forma inexplicável, o amor apaga-se. Para outras, o amor pura e simplesmente vai embora. Mas é claro, o amor também pode existir, mesmo que só por uma noite. No entanto, existe outra classe de amor mais cruel.
Aquele que praticamente mata as suas vítimas. Chama-se "amor não correspondido". A maioria das histórias de amor falam de pessoas que se apaixonam entre si. Mas o que acontece com os demais? E as nossas histórias? Aquelas que nos apaixonamos? Em que acordamos um dia sem uma parte de nós? Sem uma perna? Parece que ainda ontem tu olhavas para mim com essa cara banal de "espera só mais um bocadinho", sempre a tentar congelar-me enquanto conferias pela centésima vez que não havia mesmo nenhuma mulher melhor do que eu. E voltavas sempre.
(...)
Enfim. Agora as pessoas são interessantes só na minha imaginação. A partir do momento que elas passam a ter vida própria, sinto vontade de jogá-las pela minha janela. Deve-se temer mais o amor de uma mulher, do que o ódio de um homem.. E eu aprendi a amar menos, o que foi uma pena, e aprendi a ser mais cínica com a vida, o que também foi uma pena, mas necessário. Viver para sempre tão ingénua e perdida teria sido fatal. Descobri que tentar não ser ingénua é a nossa maior ingenuidade, descobri que ser inteira não me dá medo porque ser inteira já é ser muito corajosa. E no meio dos meus dias atarefados e rotinas viciadas, dou por mim muitas vezes a recordar rapidamente de todas as pessoas e coisas que perdi por ainda não estar preparada para elas, ou por ainda ter muita fome de mundo e dificuldade em ser permanente... Recordo-me dos amigos e parentes distantes, aqueles que eu deixo sempre para depois porque moram muito longe ou acabaram por se tornar pessoas muito diferentes de mim, e no final, em jeito de desfecho de raciocínio, acabo por pensar “no mês que vem falo com eles”. E se não houver mês que vem?
Num só vazio cabem imensas coisas, mas nenhuma se encaixa. Todas deslizam pelo rio de lágrimas que inundam todos os meus andares vazios. Quando eu decidir que é hora de chorar, vai ser o choro mais triste do mundo. Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correta e não foram comigo. Tenho vergonha de gritar que esta dor é só minha, de pedir que me deixem em paz e a sós com ela, como um cão com seu osso.
(...)
Comecei uma dieta, cortei a bebida e comidas pesadas e, em catorze dias, perdi duas semanas. Eu achei que quando passasse o tempo, que quando eu finalmente te visse tão livre, tão forte e tão indiferente, que quando eu sentisse o fim, eu achei que passaria. Não passa nunca, mas quase passa todos os dias.  Eu deixei de sentir saudades tuas e passei a sentir a tua falta.
A saudade é quando tens a certeza de que a pessoa vai voltar. A falta, é o desejo de ter de volta aquilo que à partida já sabes que não vais ter.













pontapé de boas-vindas,

“Changing is what people do when they have no options left.”


Nós somos as escolhas que fazemos e aquelas que omitimos, a audácia que tivemos e os fantasmas aos quais sacrificamos a possível alegria e até pessoas que amamos; a vida que abraçamos e a que desperdiçamos. Dá para escolher entre ser carnívoro ou vegetariano, entre fumar ou não, entre correr na praia ou ficar um pouco mais na cama, entre jogar às cartas ou ler um livro, entre amores serenos ou paixões turbulentas. O que importa é ter a consciência de que ficar sentado à espera que a vida escolha por nós não é uma opção confortável como parece. Enquanto dormimos a pensar no dia de amanhã, deparamo-nos que o amanhã chega cedo demais e o tempo perdido foge-nos por entre os dedos.
Sempre que houver alternativas, é melhor ter cuidado. Não optes pelo conveniente, pelo confortável, pelo respeitável, pelo socialmente aceitável, pelo honroso.
Opta pelo que faz o teu coração vibrar. Opta pelo que gostarias de fazer, apesar de todas as consequências. Porque para amar temos que estar dispostos. E antes de nos importarmos com alguém, precisamos importar-nos connosco. Parece auto-ajuda, parece fácil, mas não é. Eu importo-me comigo. E importo-me contigo. Antes do amor ser feito de dois, ele é feito de um.
É isso. A vida é feita de escolhas. E quando dás um passo à frente, inevitavelmente alguma coisa fica para trás. Porque uma pessoa imatura pensa que todas as suas escolhas geram ganhos, mas uma pessoa madura sabe que todas as escolhas tem perdas.
Faças o que fizeres, não te auto-congratules demais, nem sejas rígido demais contigo. As tuas escolhas têm sempre metade das chances de dar certo, têm sempre o acaso como seu aliado. Se a felicidade depende do que decides, é da sorte a última palavra.
É assim para toda a gente.
O melhor é cumprir nossas escolhas e abandoná-las quando for preciso, mexer e remexer na nossa trajectória, alegrar e sofrer, acreditar e descrer, seja de que maneira for, tudo se justificará, tudo dará certo. Algumas vidas até podem ser tristes, outras são desperdiçadas, mas, num sentido mais absoluto, não existe vida errada. Somos todos culpados, se quisermos. Somos todos felizes, se deixarmos.

Alguns dizem que nossas vidas são definidas pela soma das nossas escolhas. Mas não são nossas escolhas que distinguem quem somos, é o nosso compromisso com elas.