Leitor



.


Há quem chame de coincidência, acaso, destino; há quem diga que certas coisas estão escritas, que o que tem que acontecer, querendo ou não, acontece. Prefiro dizer que, não importa se foi um motivo de força maior, superior, divina, se foi uma mãozinha de Deus, Buda, Alá ou um empurrão das estrelas, cometas, alienígenas, gnomos, fadas, anjos, o que importa é que o encontro aconteceu. Não um encontro de olhos, mãos, bocas, braços, mas um encontro de corações cansados. De procurar sem achar, de achar só o que era descartavelmente vulgar.
Então percebi que o amor é um senhor teimoso de braços cruzados, emburrado até conseguir aquilo que quer. Descobri que podes até cruzar o mundo, virar-te do avesso. Mudar os teus gostos, os teus planos. Podes até casar várias vezes. Ter filhos e mudar de cidade. Mas o que tiver que ser teu, sempre será. Não vale a pena chatearmo-nos com o amor. Ele até pode dar um tempo, tréguas, mas quando escolhe duas vidas, ambas viram bússola uma da outra. Não se perdem e muito menos se desconectam.
O destino, isso a que damos o nome de destino, como todas as coisas deste mundo, não conhece a linha recta. O nosso grande engano, devido ao costume que temos de tudo explicar retrospectivamente em função de um resultado final, portanto conhecido, é imaginar o destino como uma flecha apontada directamente a um alvo que, por assim dizer, estivesse a sua espera desde o princípio, sem se mover. Ora, pelo contrário, o destino hesita muitíssimo, tem dúvidas, leva tempo a decidir-se.
O que verdadeiramente se passa não é que as coisas acontecem a cada um segundo determinado destino, mas que cada um interpreta as coisas que lhe aconteceram, se tem capacidade para tal, dispondo-as em determinado sentido - o que significa, segundo determinado destino.
Podemos muito bem, se for esse o nosso desejo, vaguear sem destino pelo vasto mundo do acaso. Que é como quem diz, sem raízes, exactamente da mesma maneira que a semente alada de certas plantas esvoaça ao sabor da brisa primaveril.
E, contudo, não faltará ao mesmo tempo quem negue a existência daquilo a que se convencionou chamar o destino. O que está feito, feito está, o que tem se ser tem muita força e por aí fora. Por outras palavras, quer queiramos quer não, a nossa existência resume-se a uma sucessão de instantes passageiros aprisionados entre o «tudo» que ficou para trás e o «nada» que temos pela frente. Decididamente, neste mundo, não há lugar para as coincidências nem para as probabilidades.
Na verdade, porém, não se pode dizer que entre esses dois pontos de vista exista uma grande diferença. O que se passa - como, de resto, em qualquer confronto de opiniões - é o mesmo que sucede com certos pratos culinários: são conhecidos por nomes diferentes mas, na prática, o resultado não varia. 

Se o medo tivesse sido mais forte do que eu talvez nós não estivéssemos aqui, agora, juntos, unidos, felizes, achados, encontrados e perdidos no meio de um sentimento que, até então, eu desconhecia. E, que bom, eu fui valente. E, que bom, a tua valentia deu um chega pra lá nos pseudo-receios que apareciam e desapareciam pelo meio do caminho. E, que bom, amar-te faz com que tu te ames mais. E, que bom, o teu amor faz com que eu me ame mais. Até que nada nos separe.