Leitor

Holocene






Ajeitas o cabelo com ar manhoso de quem não se importa com os olhares fugazes de quem desdenha. Sei que sabes que estou aqui a decorar-te os traços, permaneço inquietamente quieto, para ver o que vais fazer a seguir. Não me prestas atenção, nunca prestaste. E quem seria eu se desistisse de te despir de pudores e preconceitos e fazer-te conhecer o mundo nú e cru que se nos apresenta. E tens tanto para conhecer...

Reparo na maneira como mordiscas os lábios quando pensas no vazio que te enrola os dias... És tão ingenuamente tentadora que seria mais pecado ainda não te desejar. Cruzas os braços como quem espera pelo dia amanhacer, sem dores incessantes, apenas apatia espelhada em todas as atitudes e movimentos. Pára com isso, deixa-te de merdas. Que eu desistir não sou capaz, mas perder a paciência é certeza mais que certa. Não me faças ir aí, pára de pedi-lo subtilmente, eu sei que não vais gostar. Porque sei que preferes a acalmia dos dias apáticos, a previsão antecipada de atitudes, a terapia do "já sei o que vou fazer hoje" ao invés do tormento do desconhecido, da imprevisibilidade momentânea de atitudes alheias, de quedas aéreas sem saber em que chão pisas. Eu não desisto. De te olhar, apenas. Porque conheço cada traço teu apenas com o fogo da minha imaginação, e, em pensamentos, tu já te mostraste em toda a tua plenitude.

Mas não me faças perder a paciência. Deixa-me olhar incessantemente, enquanto posso. Vestir-te com o meu toque, dormir nos teus lábios. Se eu me perder, que seja em melancolia. Não em perda. Porque se perco o que ainda não é meu, é a queda aérea sem chão que tu me dás. E eu ainda não sei voar...

Hoje vou dormir a pensar em ti. Vou perder a paciência contigo, vou aí. Vou agarrar-te. Fazer-te minha. E o resto... fica apenas para depois.

Só um adeus não chega.

Fechei a janela com medo que entre mais frio esta noite. A casa está silenciosa e sinto-me surda de tanto gritar comigo mesma. A solidão tolda-me os olhos e não consigo evitar uma lágrima que escorre incessantemente por todo o meu rosto. Toca-me nos lábios e não resisto a lambê-la. Recostei-me no sofá e olho para o sítio em que costumavas estar todos os dias, ali, sentada. Sempre sentada. 
Não sei se estou a sentir as saudades multiplicadas por dias perdidos sem ti ou se é porque, nestes dias natalícios, não tenho ouvido a tua voz. Dobro as pernas contra o peito com receio que ele se parta em mil pedaços e me destrua o resto que falta. Em mim, e em ti. Anda fraco e a precisar de um abraço. Estou a sentir a tua pele enrugada e vivida, lisa como a de um bebé mas com tantas histórias marcadas, vincadas. Ouço os teus soluços, acompanham os meus. Sinto a tua falta. Só mais um dia, penso eu, este é um dia qualquer. Nunca fui de demonstrar sentimentos, nunca abraço a minha família e os meus beijos são castos e secos. Dava todos os dias que vivi sem ti em troca de um último toque. De uma única forma de te encontrar novamente. 
De uma maneira qualquer de dizer que te amo. Sempre. Porque como inocente pecadora, deixei-te ir embora sem dizer o que sinto. E tu nunca mais voltaste.  E todas as noites eu peço que voltes. Foi só mais um dia, volto eu a convencer-me. Levanto-me e encontro o teu lenço preferido, sinto o teu cheiro, ou penso, apenas. Enxugo as lágrimas e esqueço que afinal, de tantos dias que passaram, ainda ontem te ouvia a ralhar comigo por deixar a sala cheia de migalhas. Sinto a tua falta. É só mais um natal. Um entre tantos que não passei contigo. Entre os que irei passar sem ti. Arrasto-me até à cama, enrolo-me nas mantas e sinto uma pequena brisa no rosto, um toque suave, como a pele de um bebé. Amo-te, sussurro em surdina, na esperança de que me possas ouvir só mais uma vez. 

Até amanhã. Feliz Natal avó, olha por mim aí de cima e não hesites em me mostrar o caminho quando teimar em me perder.

Delírios




Dedilhas os meus anseios enquanto fechas os olhos e tentas menosprezar aquilo que sentes. Sei que te afogo os prantos em águas quentes, de maneira a que não sintas o gelo que é ser tu. Descobri que foges de todas as tuas teorias manhosas de racionar tudo aquilo que é emocionante e que te privas de provar o quão bom é a vida. Tudo isso porque te escondes atrás de palavras feitas e de orgulhos hediondos. Porquê? Se no tanto que há para viver, tu escolhes não morrer de maneira deleitosa. Sei que me tocas porque me desejas mas não me desejas a teu lado para não te ver nessa mágoa fugaz. Eu não tenho medo das tuas dores. Desfaço-me nas curvas apertadas dos teus pensamentos e agradeces-me por ainda te sentires vivo. Não sei que pensar porque deixei os meus pensamentos a prazo, numa conta só tua, perdi-lhes o direito. Chega-te para cá, encosta a tua cabeça no meu peito e chora tudo aquilo que tens a chorar. Eu também tenho medo. Mas usa-me só mais um bocadinho, para te sentires vivo. Para eu me sentir útil. 
Para nos vivermos um ao outro. 

Hetero-avaliação

 'Ainda agora te conheci, mais parece que me despeço, despi-me de tamanha timidez nem sequer liguei ao resto, teu traço pintado parece uma simples tela, não sei se foi Picasso ou se és feita de canela, morena que me aquece a alma fria, só de te olhar sei que sabes fazer magia. Agarras-me e roubas-me a inspiração, não sou de desistir, não faças confusão. Dividimos o céu, o ar e a cama a meias, tu que me tornas teu sem ligar a merdas alheias. Que ao relento tudo é natural bem mais perfeito, beijo os teus lábios carnudos e sei que gostas desse jeito, sinto a tua pele arrepiada faz faísca no corpo, não sei se é o mais certo mas sei que de certeza não é torto, tou pronto para futuro. Uma vida a dois, três ou quatro quem sabe, quero filhos contigo. Uma vida feliz. 
Por favor, dá-me.'

: ft, o mais pequeno.

Discórdia




Puxo-te mais para dentro de mim, mesmo estando tu a dormir que nem um anjo sem passado, a meu lado. Deixo os meus dedos tocarem todos os milímetros incandescentes do teu corpo e sinto o tremor subir-me pelas entranhas. Hmm.
Peco tanto em pensamentos que chamar-me-iam de puta, se mos lessem.
Ligo o candeeiro preto que comprei na feira quando fomos passar o fim-de-semana ao norte, preciso ver as horas. 

Já passam das 5 da madrugada, está um vento devastador na rua e eu não consigo desviar o meu olhar de ti. Tão quente. Espinhas de sol entranhadas na minha mente. Ardes-me e nem te apercebes.
Não te dei parte fraca até hoje e, contendo uma ou outra lágrima teimosa e invulgar que me nada nos olhos, levanto-me e vou à janela ver o tempo passar. Os cães estão a ladrar e sinto a brisa noturna penetrar-me de tal maneira nos pulmões que me sinto cheia. Há tanto tempo que não me sentia cheia.
Reparo na tristeza de um homem que por ali vagueia, na incerteza do seu trajeto e propósito. Vi-me ali. Tocas-me. Vim-me ali. Passeias as tuas mãos pelos meus seios redondos e prendes-me em ti, cheio de fome e tesão. Se não te chego ao coração pelo menos que te chegue o meu corpo. Deixo-me levar até à cama mas deixei o pensamento naquele homem sem propósito, que chutara uma lata em frente à minha janela, enquanto a agonia lhe colhia as expressões. 

Chama-me, egoísta e narcisista até, mas chama-me. E continua-me a chamar.
Quem me garante que daqui a dez anos ainda me elogias?

Diagnosticado.

Levantei-me à pouco, calcei os chinelos desbotados e fiquei sentada na sala a olhar para as paredes vazias. A casa está sem cor e sem calor, de lar não tem nada e doce muito menos. Pego na caneca cheia de corações que me ofereceste no natal passado, e apetece-me multiplicá-la para que te sinta neste natal. Novamente. Tento abstrair-me um bocado da melancolia avassaladora e fria que me arrebata ultimamente. Só reparo que estou sozinha porque estou sozinha. Passo os dias rodeada de pessoas vazias e sei que o que me preenchia eras tu. O ser humano é exímio em conseguir distrações nas situações adversas mas eu já cansei o coração e mais importante ainda, a minha cabeça. Esgotaram-se as opções e por isso resta-me apenas contemplar o vácuo. O café está quente e por segundos fecho os olhos. Como é possível uma pessoa aguentar tamanhas perdas? Não que se morra de amor e muito menos pela falta dele, mas o que fica quando já não fica mais nada? Nada. É isso que faz toda a diferença. Já nada me aquece, já nada me move. Acordo apática dia após dia, sem sentir emoções relativamente a nada. Não ligo a tv porque não aguento ouvir pessoas a falarem, não ouço música com medo que alguma me recorde das tuas gargalhadas. Não tenho fotografias nas paredes porque não quero ir buscar o nosso álbum. Acendo cigarro atrás de cigarro. Um fantasma teria mais vida nesta casa do que eu, que consigo estar mais vazia do que ela. Não me apetece sequer chorar. Passou a fase da revolta desesperada, do sentimento de injustiça seguido da culpa. A tentativa falhada de reverter as coisas. O ir atrás. O dar para trás. O chorar compulsivamente e as promessas de que não verteria mais nenhuma lágrima. Isso tudo passou porque não há mais nada para se passar. Porque as portas fecharam-se e eu não as quero abrir. Vou à janela, espreito de fininho. Ainda te consigo ver passar por aqui, parece-me que olhas duas vezes para a porta e reparas que não tenho regado as plantas, sinto-me culpada. Dou um último bafo no cigarro, jogo a ponta pela janela e escorrego pela parede abaixo. Não sei pelo que espero. Não sei o que te quero. 
Vem-me buscar. 

Segunda estrela à direita, sempre em frente até ao próximo amanhecer. 

Folheei-te.

Tenho os pés frios. Chove torrencialmente e eu estou sentada à lareira enquanto fumo um último cigarro. Estes dias trazem-me mais necessidades e ultimamente são mais que muitas. Enquanto decido mentalmente se pego no livro ou não, reparo na equidade de valores. Só não me agarro mais a ele porque não quero acabar de o ler. É tão delicioso porque ainda não lhe conheço o final e é isso que me desperta o desejo. A chuva continua a bater na janela e eu nem preciso de uma música melancólica para começar a divagar. Que tédio. Não gostei muito das primeiras páginas mas forçei-me a ler, porque ele veio parar-me às mãos por acaso e na vida os acasos não existem. Nem reparei na capa, cheio de desenhos entalados em palavras, sem nexo titular, não lhe entendi os nomes e só passei à frente. Os prefácios deixam-me enjoada, a sério, enjoada. Uma enxurrada de palavras bonitas enfeitadas com metáforas e elogios escondidos para captar o leitor, pois a mim só me deixa a pensar em que tenho que acender mais um cigarro. Mas foda-se, como tenho gostado do livro. E a cada página a mais é uma página a menos. Vou saboreando cada eloquência frásica, cada detalhe esfarrapado e inconsequentemente mal-entendido. Sabes porque é que gosto tanto de livros? Porque no meio de tanto mundo que existe, eu posso criar o meu. As personagens são minhas, a historia é minha e eu sinto que a cada livro lido conheço o meu final. Mas nunca é o meu final, porque a cada livro acabado segue-se mais um dia. E cada dia a mais é um dia a menos. Foda-se, tenho os pés tão frios e não resisto a calar este barulho incessante da chuva, talvez escolha uma música clássica, porque não? O momento está mesmo a pedir e se me meto em merdas românticas sei que me desfaço em lágrimas e já me chega o céu em prantos. Hmm, que melodia catastrófica. Agora reparo. Dou mais um bafo, os cigarros são poucos e estão a morrer no cinzeiro. Estaria eu só a falar dos livros? Estaria também a falar de ti? E será por isso que não me entrego como deveria? Porque, inconscientemente ou talvez não, saiba que assim que te acabar de ler, vais para a prateleira e nunca mais te pego. O desejo de te folhear agora é enorme porque não te sei o futuro, não sei o fim. E se quando te acabar de ler, descobrir que não eras o meu fim que procuro e que afinal existe mais um livro? Mais um dia? E cada dia a mais, é um dia a menos. 

Desisto. Deito o cigarro pela janela e molho a minha mão. Que frio que está. Desligo a aparelhagem e vou dormir. O livro fica para amanhã, ou para depois. Não. Pego no livro e sem ver as palavras, arranco as últimas dez páginas e jogo para a lareira. Se não me encerram os dias pelo menos que me aqueçam os pés. Por enquanto fico satisfeita só por imaginar três mil fins diferentes. Sei que não me vou desiludir porque afinal, o fim vai ser o que eu escolher, sem perder dias a fio a imaginar o que poderia ter sido e não foi. Porque a cada dia a mais... É um dia a menos e eu quero saborear o que me resta pela frente.

Amor a prazo.

Estou a ver-te. Agora olhaste para mim e sorriste. Como eu adoro todos os teus sorrisos. Tu, de lábios cheios e dentes traçados de personalidade, ficas ainda mais lindo a sorrir. Voltas a olhar para o computador. Está tarde e estás cansado.  Mas essa necessidade louca de te preencheres com o que achas que deves está a matar-nos os dias. Queria que viesses para a cama porque está frio e eu preciso de ti. A cama continua por desfazer do teu lado há três dias, são três noites em que não te sinto a dormir a meu lado. Continuo a olhar para ti porque não me canso, nunca pensei sequer em cansar-me. Amo-te como se te tivesse descoberto agora.
Volto para o quarto e tento dormir enquanto sou assombrada por um filme à antiga, cheio de pormenores, detalhes da nossa história. E tantos episódios soltos, tal e qual cartas espalhadas sobre a mesa. 

A primeira vez que nos vimos e o abraço que me deste. Seguraste o meu mundo por 30 segundos e fiquei feliz porque foste a primeira pessoa que não o deixou cair. Porque foste a única pessoa a dizer que eu só tinha falta de um abraço para resolver todos os tormentos que existiam dentro de mim. Curaste-me mil.

O teu ar de criança a jogar em frente ao computador. Ainda hoje tens essa mania, esse hábito e necessidade que te mantém tão atraente. Se soubesses o quão sexy ficas de boxers a discutir para um monitor. E tantas as vezes que me deixaste sozinha para "matar o vício". 

A primeira vez que cozinhei para ti. Senti-me mais tua mãe do que tua namorada e foi aí que percebi que seriam teus, os meus filhos. 

Os passeios à beira-mar e as juras de amor eterno.

O cheiro característico da casa dos teus pais.

O mau feitio da tua avó que nunca me suportou. Ainda hoje não suporta.

Está frio e ainda não vieste para a cama. Sei o que se passa. Preparo-te um café bem forte, da cor dos meus olhos. Um mimo nunca fez mal a ninguém e sei que estás a precisar. Eu também estou. Mas não tenho quem mo faça então volto para a cama tal e qual como vim. Vestida apenas com a tua t-shirt e chinelos de enfiar o dedo, que ridícula que sou, a morrer de frio e enrolada numa manta só para não perder a oportunidade de sentir o teu cheiro, nem que seja através de um  pedaço de tecido.

Só não fico triste por mim porque estou demasiado triste por ti. Porque sei que não me amas tanto como querias amar e porque o cansaço se apoderou de ti. Não és cobarde, és o meu herói. Preferes lutar para amar do que fugir de quem te ama. Não há esforço mais bonito no mundo do que aquele que se faz por quem se ama. Ou se quer amar. Já me deste tanto que seria hipocrisia minha tentar forçar-te a mais e por isso tento atenuar a tua confusão momentânea com cafés e beijos na testa, enquanto olho o máximo de tempo possível para ti, porque sei que cada olhar que trocamos poderá ser o último. 






Estou-te a ver. E tu olhaste para mim e sorriste. Mas esse sorriso... Não me lembro de alguma vez o ter visto. Deve ser o teu sorriso melancólico. E continuas lindo, tantos anos depois. O tempo só conseguiu apurar o teu jeito eterno de criança. Cabelo grisalho e roupas amarrotadas de quem não conseguiu arranjar paciência para as passar a ferro. Ainda tens as sapatilhas que te ofereci, passados 13 anos. Estão rotas e desbotadas tal como tu. Essa barba de três dias consegue tornar-te ainda mais sensual, como nunca pensei que pudesses sê-lo. Quero falar-te mas não sei bem o que dizer. Que tive saudades? Que lamento não ter aguentado a pressão de ver-te definhar entre quatro paredes? Que noto o teu ar cansado da vida e de quem precisa de companhia? Que te amei ao longo de todos estes anos? Que estou magoada por te ter perdido? Por não ter sido capaz de te fazer amar-me? Continuas a olhar para mim.  Peço um café fraco. Sempre lidei mal com a cafeína mas continuo a cometer o erro de a consumir. Peço um segundo café. Forte e bem escuro, da cor dos meus olhos e mando também um bilhete, em segredo.
Reparo que trazes o relógio verde que te dei pelo aniversário e apercebo-me de que afinal, sempre fui a dona do teu tempo. Que se calhar fui embora cedo demais e tu reparaste, tarde demais, que tinhas deixado a oportunidade fugir. Que nos desencontrámos ao mesmo tempo e no mesmo sítio. Que estávamos bem e mudámo-nos para não sei onde. Olho mais uma vez para ti e espero que a empregada te entregue o papel, tal como lhe pedi. Continuas lindo. Guardo uma última imagem, pego na minha mala e vou embora. O caminho é longo mas eu já o conheço. Faço-me à estrada e reparo que um passarinho me alegra o trajeto. Sorrio. 
Como poderei eu fartar-me de ver em ti o que há de melhor em mim? Amo-te como se te tivesse descoberto agora. 

Continuas o mesmo, não sei se é bom ou mau. Sei apenas que o meu coração quis saltar do peito quando te vi e que fui invadida por mil borboletas inquietas quando me sorriste. Acasos do destino ou não, agradeço por este momento. Sabe bem poder atualizar a imagem que tenho dentro de mim, cresceste tanto desde que me fui embora. És um grande homem e sempre to disse. Alguém me disse que às vezes o adeus é a segunda oportunidade. Este reencontro pode ser uma terceira? Sabes onde me encontrar. É só me seguires. Se quando olhar para trás, tiveres a olhar para mim, saberei que me amas como se me tivesses descoberto agora. Se não tiveres... Bem... Então isto foi uma maneira boa de relembrar o quanto ainda te amo. Deixo-te um café forte e escuro, da cor dos meus olhos para nunca te esqueceres que eles sempre foram teus. Até já. 


Fui agarrada num turbilhão de abraços. Voltou a agarrar o meu mundo, jogou-o ao ar e não o deixou cair; novamente. Acabou de me curar mais um tormento. Afinal nem tudo tem prazo de validade... Amor.

Ainda tenho que dizer que te amo.



Até hoje, das coisas que mais lamento foi não ter seguido o teu percurso. Se me concedessem um desejo seria ser uma espécie de estrela-guia. Não para te orientar, não que precisasses. Tu, minha mulher de armas, ensinar-me-ias muito mais do que pudeste fazer. Seguraste-me ao colo inúmeras vezes, seguraste-me o mundo e seguraste a alma. Espero que a tua esteja a meu lado, neste momento. Nunca te poderei prestar a homenagem que o teu ser merece, nunca poderei dizer a ninguém o que foste, quem tu foste, eu não sei encontar a palavra certa e muito menos a definição. Ainda oiço a tua voz límpida e segura que nunca pude ouvir. Ainda te oiço contar histórias que nunca me contaste. Nunca me levaste à escola num dia de chuva. Nunca pude chegar a casa e ter o lanche quentinho e suculento à minha espera, como só uma avó sabe fazer. Nunca me acordaste para irmos à missa ao domingo, nunca me disseste "eu bem te avisei, meu amor" quando tive o meu primeiro desgosto amoroso. Nunca me avisaste dos amigos mascarados, nunca me pudeste limpar as lágrimas quando me doeu o coração.

Se me dessem a escolher, escolheria ter nascido mais cedo. Queria ver-te forte, sorridente e determinada. Queria conhecer a vitória que somava vitórias. Queria saber quem foste, personagem das histórias da família, que sem ti não se escreveriam em memória alguma.

E as memórias que tenho são imensas, apesar de tudo. Sempre te olhei com amor. Sempre fui contigo apanhar sol quando estava um dia lindo lá fora. O teu peso era mais do que o teu ser, tu e essa coisa com rodas e um assento sempre me acompanharam. Eu tratei de ti como tu deverias ter tratado de mim. A vida inverteu-nos a ordem do crescimento e da maturação.

Nunca tive vergonha de dizer que te limpei as lágrimas. Quando te sentias inútil e sem sentido. Quando te lembravas do que já foste e no que te tornaras. Nunca foste um fardo que tive que carregar. E o orgulho que tenho em dizer que me levantava todas as manhãs para te fazer o pequeno-almoço. Que assistia contigo à missa na televisão, e te via rezar para que Deus te levasse embora mais cedo. Que te fazia rir com as minhas piadas, e que tu só te rias para não chorar. Que quantas vezes te dei comida à boca, porque já não conseguias. Aprendi a ouvir o que dizias, a treinar as tuas vocalizações. A moldar-me aos teus devaneios.

Nunca entendi porque querias ir embora, se te tive por tão pouco tempo. Porque os anos que passei contigo a pouco souberam. Não me viste crescer porque tive que te ajudar a ser maior.

A vida foi-te madrasta. Mas a mim deu-me oportunidade de aprender contigo mais do que algum dia poderei aprender com alguém. E também me deu oportunidade de me despedir, eu é que não sabia. Eu é que nunca pensei que dois dias depois partisses para nunca mais te ver. Sinto um enorme peso na consciência porque não te disse que te amava. Fui embora sem saber que seria a última vez que te via.

Já lá vão mais de dois anos.
Espero que estejas em paz. Espero que finalmente, tenhas uso da tua alma e do teu coração, aí no céu. E sei que de vez em quando me vens ver. Me dás alento e um beijo de boas noites. Sei que me aqueces nas noites de inverno e me consolas quando estou a chorar. O que me enche de esperança é saber que não te esqueceste de mim. Que me visitas e deixas sempre um pouco de ti comigo. Sinto-te.

És o meu anjo da guarda, a minha Vitória.

P.S. Na próxima visita, deixa-me um frasquinho de paz e esperança. E espera por mim aí em cima, ainda nos vamos abraçar. Ainda tenho que dizer que te amo.
Acabei por te advertir de toda a situação. Ris-te feito um louco, és. 
Ganhas e perdes com perícia de lutador de boxe. O grande drama de todos os lutadores é não saber como reagir no momento certo. O momento certo. É a seta lançada, a oportunidade perdida. Do que reclamas tu, pessoa inócua, se já tiveste tudo pelo que agora anseias? Que os momentos voltem atrás? Que tudo se apague? Quem seríamos nós sem essas memórias? Quem seria eu? Voltaria a cometer os mesmos atos? Quiçá. 
Não te consigo entender, mas consigo entender-me. E vejo agora que nem tudo o que achamos ser efémero, é. E que numa hora podemos realmente estar a morrer de amores, mas esse amor também morre. O grande erro dos lutadores é acharem que são invenciceis e que apenas os seus golpes têm sucesso. Estrangulaste-me, enlouqueceste-me. Tiraste-me o chão 1000 vezes para te sentires poderoso. Jogaste com a minha paranóia e descobri que afinal o paranóico és tu. Quantas vezes não fui eu a fraca para tu não te sentires fraco? E tão forte que te achavas que após teres exactamente aquilo que querias, pensaste que já não precisavas. E outro erro cometido. Ou o mesmo. 


Hoje estamos num novo assalto. Hoje sou eu que estou poderosa, brinco com a tua paranóia porque fiquei louca. Tiro-te o chão porque me dá piada ver-te cair. Gosto de te ver rastejar porque me sinto acima de ti. Não imaginas o gosto que é humilharmos alguém que sempre nos humilhou. 


Ganhas e perdes com a perícia de um lutador de boxe. 

Pena que acabaste de levar um gancho de direita, certeiro. 

K.O.
Lamentámos tudo o que há para lamentar. Dêem-me a escolher e escolherei sempre o percurso que mais me sorri. Hoje, ao olhar para trás, o que mais me comove não é a saudade. Nem tão pouco a melancolia. É a impotência contra o tempo, destino, passado incontrolável tal e qual como o presente, quiçá o futuro. Vejamos bem as coisas, quem de nós dois quis fugir de nós? Fizémos nós, perdemos os laços, lá se foram os abraços, só para mais tarde recordar. Num tempo tão perdido em que risos faziam parte de uma doutrina só nossa mas tão vulgar para ser de toda a gente. Afirmamos ser tão diferentes e somos todos tão iguais. Nós, que promessas dizemos ter feito sem as cumprir, e muitos de nós também não sentimos a consciência pesada por as termos deixado para trás com tudo o que já vivemos. Relativizando tudo o que foi dito e vivido, porque afinal crescemos e "só faz falta quem cá está". Quanta hipocrisia criticamos sem saber que contra nós falamos. Arranjamos sempre as mesmas desculpas, irrisórias porém, de que o tempo não chega para tudo, de que afinal, as pessoas acabam por seguir caminhos diferentes e que tudo acontece por uma razão.

Que se foda quem pensa assim. E que me foda eu.

Que de tantas e tantas vezes pensei que iria ser diferente, afinal, bastava um contacto e tudo voltava a ser o que era. De todas as vezes que nos reencontramos, as promessas voltam a pairar sobre nós como uma flecha sem alvo, porque dias depois, já não nos lembramos das saudades que sentimos de tudo o que vivemos. E entretanto há algo que nos faz lembrar. Um nome no vazio, uma experiência relatada, uma gargalhada semelhante ou apenas um deja vu. E voltamos a sentir falta. E nada fazemos para alterar isso. Seguimos todos com as nossas vidas medíocres, com as novas pessoas com quem passamos mais tempo, com a maltinha do dia-a-dia. Hipoteticamente felizes se não fôsse apenas isso, hipoteticamente. 

E na hora do aperto, na hora da aflição, perguntarmo-nos onde andará a pessoa que nos iria ajudar, apoiar e relembrar que tudo iria ficar bem. Provavelmente seguiu também o seu caminho, provavelmente também se lembrou de todos os momentos e de todas as promessas. Provavelmente também já precisou de ajuda mas não conseguiu pedir. Pois. Porque afinal não basta um contacto para que tudo fique bem. Porque podemos gostar mundos e fundos daquela pessoa, mas perdemos a confiança depositada. Porque os juros são bem mais caros do que o orgulho perdido momentaneamente. É alto o preço a pagar pela perda de um amigo. E mais alto ainda se torna quando, por aventuras do destino e da vida, o reencontramos e sinceramente, já não o conhecemos. É isso que dá mais desgosto. Porque a vida é feita de encontros e desencontros, mas cabe-nos a nós decidir quando queremos ficar de vez. 
Não há coisa melhor que o desejo carnal aliado à adoração eterna do ser autênticamente nosso. Se eu fosse hipócrita, diria que apenas sinto falta de todos os teus olhares fiéis, da tua cumplicidade, da tua amizade e do teu amor. Eu sinto mais que isso. Foda-se, se sinto. Não te conheço, sermão que pregas aos quatro ventos, como se isso realmente fosse verdade. Como se não soubesses que é mentira. A cada vez que o negas, eu lembro-me mais ainda de tudo o que tu és.

Conheço todos os teus gemidos de cor. Os suspiros ao meu ouvido quando atingias o auge do teu ser, a maneira como me agarravas o cabelo e gritavas, sem medo e sem pudor, sem te importar que te ouvissem. Dava-me ainda mais tesão ver-te esquecer o mundo por segundos, enquanto te contorcias compulsivamente, como se tivesses possuída, agarrada ao meu corpo, suor com suor. Lembro-me do teu cheiro característico, o teu cheiro a sexo puro. Reconheceria ainda hoje, apenas no teu olhar, quando te apetece foder. Só e apenas isso. As minhas mãos já fizeram magia. Nunca fui mágico dotado, de experiências tenho poucas recordações mas lembro-me bem de te preencher de todas as maneiras e feitos enquanto explorava tudo o que era meu. E tu deixavas. E tu gostavas. Sentia a curva dos teus seios nos meus dedos, perfeitos e capazes de provocar inveja em qualquer mulher. E desejo em qualquer homem. Se me dissessem, eu sem te conhecer, que existiria tal coisa eu não acreditava. Tens a capacidade deve me seduzir só com a tua presença. És uma cabra sem escrúpulos. Quantas e quantas vezes tu me provocaste, agarravas e torcias. Cima, baixo, cima, baixo. Quão baixo tu jogavas. Quão louco tu me punhas. Quantas e quantas vezes me deixaste ali, sozinho, a torcer de desejo enquanto te masturbavas só para me provocar. E quantas vezes, ao ver-te, te violei em pensamentos. Amarrei-te, penetrei-te com toda a força do meu ser até os nossos corpos se tornarem apenas um. E aí eu descontraía, apesar de sozinho, agradecendo a Deus ou aos meus pais que pensaram em ornamentar-me com duas mãos trabalhadoras. 

Lembro-me da tua boca mágica, santa milagreira do sexo. E o que mais me lembro é do facto de quereres e de gostares de me ver gemer. E quantas vezes eu me contorci a olhar para os teus olhos sedentos do meu músculo vigoroso. Tinhas a mania que mandavas. Comandavas todos os nossos movimentos, todas as tuas vontades. E as minhas também. E eu que não ousasse sequer alhear-ne aos teus desejos, acabavas por me deixar a sofrer no vazio da ejaculação. És mesmo uma cabra sem escrúpulos. De todas as formas e feitos.
Como podes tu dizer que não te amei se amei todas as formas do teu corpo, todos os teus toques, todas as tuas palavras, todos os teus gemidos, todos os teus suores. A cada vez que te vinhas, eu vinha-me em pensamentos, nadando em prazer por te conseguir preencher mais uma vez, mais um dia. 

Se te queixas de não me lembrar de todos os nossos aniversários, da data do primeiro beijo, da data do primeiro encontro, de todas esses detalhes fúteis e inúteis, orgulha-te de me lembrar, todos os dias, de conhecer de cor e salteado, toda a essência do teu ser.
Demoras a chegar, pé ante pé, como quem não quer nada. Espero que venhas sorrindo. Que me abraces e me apertes num beijo demorado, um abraço teu chega sempre a horas. Não te sei o nome, que te chamas Anjo isso é certo, tão certo como eu ser tua. Já te conheço tantos detalhes e nunca te vi. Acordei durante a noite pensando que, até em meus pensamentos, és mais do que isso. Não te toco; és nuvem mágica que paira sobre mim. Figura tão segura de si, crente de todas as qualidades e defeitos, libertadora imagem de todos os problemas. És tão errado como certo. Falta-me o ar quando me faltas e falta-me ainda mais quando te tenho. Já te conheço tantos detalhes. Procuro-te como um dependente insaciável, como se não houvesse mais nada no mundo para além de ti. E nem tu existes. A curva dos teus ombros, os teus braços infalíveis, a doçura do teu sorriso. Já te conheço tantos detalhes. Os teus olhos insensíveis, a tua expressão arrogante. És tão contraditório que me preenches todas as lacunas. És tão errado como certo. E eu não sei o que sou, julgo ser apenas um vislumbre na tua realidade, meu universo paralelo. Se não me existe como poderei eu existir-te? És uma tentação assustadora, porque raio te tenho eu tanto medo?  Na vida temos que aprender a nunca nos afastarmos de nós para nos aproximarmos de alguém.
Mas eu já gosto de ti.
Não sei a mulher que sou mas sei bem a mulher que não sou. Chega de pragmatismos, práticas de eloquência e bem-dizeres. Ambos sabemos o que vales, eu mais que tu por não ter o filtro que é o teu ego no meu olhar. Chega-te para lá, já que nada chegas a valer. Vestes as palavras mas és mau de língua. Pior ainda, és terrivelmente mau de carácter. De que te serve ter 26 letras na boca pintadas de cor mágica se a verdadeira magia é aquela sobre a qual não lhe descobrimos os truques? E eu já descobri os teus.

Anda, denuncia-te aos sete ventos e cai desse teu pedestal. Já não ganhas nada em ludibriar os sentidos alheios e pior ainda, em enganar-te a ti próprio. 

A verdade está sempre a olhar para nós, à espera do tropeção, ansiando pelo momento em que caímos de boca, em que ficamos em merda, para nos atirar à cara tudo aquilo que não quiséramos ver. Tu não vês aquilo em que te meteste? Será que não reparas na hipocrisia em que vives, nos falsos sermões, nas ilações desesperadas de palavras treinadas? 

Eu sei que tens treinado. Tudo o que consegues dizer são frases alheias à situações, aprendizes de manias, sabendo exactamente com que entoação são ditas no momento da discórdia. É. Tenho que admitir que soubeste treiná-las bem. Recebe agora o conselho de uma parva, cujas palavras são soltas e por vezes sem nexo frásico. Tão nuas de figuras de estilo quanto de magia. Nunca as treinei. Nunca quis fazer mais do que sou, nunca as decorei, nunca soube o sabor de ludibriar alguém com 26 coisas tão pequenas. Nem me dou ao trabalho. Só te aconselho a que descubras o homem que não queres ser. Já que o homem que queres ser, tu não o és.

Há quanto tempo não me arde o coração?

Às vezes tenho saudades. De me rir com pensamentos, de sentir o teu sorriso durante o beijo, as tuas mãos em mim. De acordar a meio da noite com vontade de olhar no fundo dos teus olhos, enquanto sei que estás a dormir longe de mim. Era por isso que te queria tanto. Às vezes tenho saudades. De quando os insultos não passavam de meras palavras só nossas, que só nós sabíamos o seu significado. De quando contávamos os minutos e os dias para termos um beijo. De quando as borboletas invadiam o meu coração só de pensar que eras meu. E quão meu tu eras. Há muito tempo que não me arde o coração... Está em cinzas.

Da esperança de amar.

Obviamente que todas as histórias até hoje contadas não passaram de meros boatos ridiculamente associados a nós. Quem, por ventura, poderia afirmar, afinal, que éramos feitos um para o outro? Semelhanças talvez? Mas nunca uma equidade tal que fôssemos a nossa metade da laranja. Quando gostamos de alguém, independentemente da pessoa em questão, quem muda e se molda somos nós. Já repararam em todas vezes que estivemos apaixonados? Já repararam como agiam de forma diferente em cada uma dessas vezes? Não nos julguemos, cada amor é um amor e deve ser vivido de forma intensa e única. A parte mais engraçada é quando nos desapaixonamos e vemos que, afinal, não éramos aquela pessoa. Que fazia o impensável em estados sãos.  A culpa realmente não existe porque os erros não existem no que toca ao amor. Se há coisa mais limpa e inocente no mundo, livre de maldades e más intenções é o amor, e por isso, ninguém é culpado de nada. Nem de amar sem ser amado, nem de ser amado sem amar. Muito menos de amar em tempos errados e, principalmente, de amar em quantidades erradas. Desengane-se quem pensa que não deveria ter amado determinada pessoa, se o pensa é porque não sabe o que é amar. Ou ser amado. Porque amor não se nega a ninguém e todos nós amamos, em pequenas quantidades ou grandes quantidades. Amamos uma gota de água ou amamos um oceano. Cabe-nos a nós decidir. Principalmente decidir se preferimos amar-nos a nós próprios acima de todos os outros. 


Passemos ao que interessa. Eu cheguei a esse estado. Descobri que te amo, que te amei. Descobri que amo todas as pessoas que passaram pela minha vida. Descobri que ainda amo o tal ex de quem tu tinhas tantos ciúmes e descobri que amo aquele amigo com quem tu tanto implicavas. Descobri que amo todos os momentos. Descobri que continuo a amar todas as minhas memórias, todas as nossas memórias. 

Descobri que me amo. Mais que a ti. Mais que tu alguma vez amaste. Amo-me de uma tal maneira que não me permitirei, nunca, esquecer-me. Por amor nenhum.

Afinal a minha metade da laranja não és tu. Nunca foste. 

Sou eu.

"Nunca voltes ao lugar
Onde já foste feliz
Por muito que o coração diga
Não faças o que ele diz
Nunca mais voltes à casa
Onde ardeste de paixão
Só encontrarás erva rasa
Por entre as lajes do chão
Nada do que por lá vires
Será como no passado
Não queiras reacender
Um lume já apagado
São as regras da sensatez
Vais sair a dizer que desta é de vez
Por grande a tentação
Que te crie a saudade
Não mates a recordação
Que lembra a felicidade
Nunca voltes ao lugar
Onde o arco-íris se pôs
Só encontrarás a cinza
Que dá na garganta nós
São as regras da sensatez
Vais sair a dizer que desta é de vez."
Não há nada mais bonito na vida do que apaixonarmo-nos por nós próprios. Aí sim, sentimo-nos em pleno, como ninguém nunca nos irá sentir. Como tu nunca me sentiste. Por ti fui sempre metade, agora sinto-me mais que inteira.
Nós sabemos que estamos cansados de lutar quando perdemos as forças. Tentamos chegar um passo adiante mas as pernas não nos obedecem. O que não falta é vontade, o que nos falta são as forças. E não há nada mais triste que isso. Custa saber que poderíamos chegar mais longe, ter-nos mais tempo ficarmos um pouco mais. Ter-te-ia mais tempo, se pudéssemos tê-lo. Já não há tempo para nós, e forças muito menos.
Se eu soubesse que irias virar-me as costas nesta altura da minha vida, já teria ido há muito embora. Não falemos em desilusão: nunca esperei nada mais que indiferença. A questão aqui é mesmo essa. Eu também sei pagar na mesma moeda...
Acordei sobressaltada hoje. Só me passam duas coisas pela cabeça. A primeira és tu. A segunda sou eu. Porque teimas em fugir de nós quando sabes que nos amamos?
Já te disse inúmeras palavras. Muitas delas mentira, é certo, e certo será também dizer que de verdade foram quase todas. O que realmente importa aqui é o que vai dentro de mim. Não existe dialecto algum que o espelhe: será erróneo da minha parte tentar sequer. Isto porque acabo sempre por fazer o contrário. Também já te disse que despertas em mim o meu lado maternal, e, por isso, é-me difícil ver-te como algo que não me concerne e trato-te de maneira a seres perfeito, coisa que, felizmente, não és. Leva-me a sério, agora. Lembras-te de tudo o que te disse até hoje?  Então lembra-te por favor que só quero o teu bem. Só isso.
Tens sido a melhor parte de mim. De erros que tenho cometido, és, definitivamente, o mais acertado. Trouxeste à tona sentimentos desconhecidos que transcendem o amor. É uma adoração infindável, com desenvolvimentos agrestes. É. Passámos de meros desconhecidos a perfeitamente perfeitos um para o outro num ano. E num ano, tenho só a agradecer-te. Descobri que duas pessoas comunicam apenas com olhares, que os corpos são mais que isso: corpos. E que nós encaixamos um no outro como um puzzle. Fazes-me também entender que existem almas gémeas. Um diamante em bruto em que talhei todos os detalhes que pretendia para a minha vida e assim apareceste na minha vida, vindo do nada, sem ir para o nada, porque agora dou-te o meu tudo. És tudo. Afectas-me de uma maneira indescritível, afogas-me, tiras-me o ar só com palavras, e dás-me aquele sorriso que salva o meu dia. Já te disse milhares de vezes que não sei o que vi em ti e de todas elas respondeste: "o que não há em ti". Pois digo-te que é a coisa mais certa que alguma vez me disseste. Orgulho-me de ter feito parte da tua vida e orgulho-me mais ainda de continuar a fazê-lo. Seja de que forma for. E assim  deixo bem claro que quero continuar a ajudar-te com todas as minhas forças, tu merece-lo.
Uma vez li algures que o amor nunca morre. Muda de forma, de nome, de descrição, mas continua a ser amor. Eu amo-te de uma forma sem nome, não é esta a forma de o dizer, mas é o que me apetece dizer e tu sabes que eu digo só o que me apetece, recuso-me a ficar com tudo cá dentro. Só te peço que não me descartes, porque, apesar de não sermos um casal, temos uma relação melhor do que muitos namorados por aí. Porque discutimos e provocamo-nos, mas, no fundo, existe mais para além disso. Não nos esquecemos um do outro. É o tal puzzle.
Inquebrável. Como eu gosto de ti... Do que construímos. Sem palavras.

Até já,ls.
De todas as formas que existem de sentirmos saudades, a saudade calada é a mais dolorosa. Quem me dera que te lembrasses de mim.
Tu sabes o sentimento. É como voltar a uma casa onde já moraste: conheces todos os cantos, todas as divisões. Sabes andar de olhos fechados e confias de que não cais. Só a decoração está diferente. Porém, reconheces que já não moras lá, que outras pessoas já lá viveram e agora também sabem onde ficam todas as portas e janelas, possivelmente até onde era o teu esconderijo. Deixaram a casa em mau estado, está usada. Isso nota-se.
Eu não me importei de lá voltar, ainda é uma casa acolhedora, aconchegante, tem muita claridade e proporciona um sossego à alma difícil de explicar. Gostei de lembrar tudo o que lá vivi, de fugir, de ser encontrada. De correr e tu me apanhares, das gargalhadas. Lembrei-me do que chorei, de pensar que iria viver ali para sempre. Gostei ainda mais de saber que foram os melhores tempos da minha vida, que, apesar de ser só uma casa, era o meu palácio.
Tu sabes o sentimento. Sentiste-o também. Lembrámos tudo o que se passou. Gostaste de viver dentro de mim, só uns momentos, novamente. Fomos nós os dois outra vez, sem problemas, sem barreiras nem discussões. Fomos nós, novamente, com tudo o que tínhamos para dar e voltámos a dar. Eu gostei imenso de voltar àquela casa. E um dia, quando já estiver em ruínas, voltarei novamente... Uma casa que nunca morrerá para mim...

Os teus braços. O teu coração.
Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, daqui a uns tempos, bem, quem sabe? O verão está aí, haverá sol quase todos os dias, o calor vai alegrar tudo, parques verdes, piscinas azuis, praias cheias de gente, e sempre resta essa coisa chamada 'impulso vital'. Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, faz-te esquecer o que sentes mas nunca o que sentiste, empurrar-te-á quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento, de um olhar ou sorriso, surpreender-te-ás pensando algo assim como 'estou contente outra vez'.
"Ela está aí porque quer. Porque gosta do jeito que ela é com você. Porque gosta de você. Se não fosse por isso já teria ido embora. Mas não. Ela não quer ir pra outro lugar. Porque ela fica triste longe de você. O mundo fica esquisito e anda de uma forma devagar e lenta sem você. Por isso ela nunca quis que você pensasse em ir. Ela gosta de música, dias bonitos, cachorros, brisa do mar, sol, frio, sentir o vento dançando nos cabelos, rir até a barriga doer, falar besteira, desenvolver "teorias" malucas, filmes, viajar, chocolate, arte, você. No meio disso tudo você sabe quem ela é e como se sente. Ela gosta do seu jeito manso e doce. Do seu lado carente e delicado. E da sua postura de homem firme. E tem ciúmes de você. Ela gosta das suas palavras carinhosas e do seu lado divertido. Do seu jeito infantil de não saber lidar com pequenos contratempos. De como você fica cheio de manha quando está doente. De você como um todo. O que ela quer? Que você se abra. Que seja sempre você. E que sinta o mesmo que ela. Mais nada.

E, quem sabe, qualquer dia ligar pra dizer que sente saudade. ".

A liberdade de uns começa quando a de outros acaba. És-me. Eras-me. Que saudades.

Cheguei ao fim, desisto, não consigo mais. Perdi todas as forças, quiçá, a força que nos uniu um dia. Quem sabe se, lá no futuro, tu não voltas. E mostras que me queres, que me desejas, como eu te tenho mostrado? Quanto a mim sei que me mantenho no meu canto, sozinha e sossegada, vendo os outros passar, conhecendo novos sorrisos, mantendo-me a uma distância segura que não me permita sofrer. Tu? Tu segue-la feliz, a vida. E só desejo que assim continues, tu, que és tão novo e tens tanto pela frente.

Muito boa sorte.

É engraçado como há químicas que nunca acabam. Gosto de transformar todo o desejo em carinho, guardar sempre um lugar no meu coração para quem me fez tão bem.


Como gosto de estar aqui. Como gostaria de ter partilhado mais vezes a cama contigo. Só assim, juntos, na mesma cama, a ouvir a mesma respiração. A respirar a mesma respiração. E bastava isso para me fazer feliz. Adormecer a ouvir-te respi...rar, acordar a ouvir-te respirar. E tudo fazia sentido. Bastaria isso para tudo fazer sentido.
pcf.

Como te amo.

Das palavras de que não te digo...

Tenho muita coisa guardada para ti. A maioria são acções, eu, que sempre me orgulhei por passar por cima das tuas contradições, guardo-te vinganças. Não vinganças minhas, não. Pagarás de forma pesarosa o resto da tua vida. E não farei nada para que sofras, quem seria eu afinal, para fazer algo contra ti? Tu que me és mais que palavras, mais que actos. És-me mais que sangue. E eu sou-te mais que carne. Sou a tua consciência pesada, o teu diário, os teus segredos e medos. Eu sou-te pecados e dor. Sou-te o arrependimento maior que se pode sentir. Sou-te o orgulho ferido e os erros cometidos. Sou-te tu, em mim. Mas eu não te quero a mim. Não, tu foge. Foge enquanto é tempo, já deverias ter fugido ao tempo. O tempo que passa, sem fugir, andando, só, entre nós, sem nós, connosco num tempo perdido, sem ele. Ele é ele. Nunca nos seguiu, sempre nos separou e por ele nos separar tanto é que estaremos para sempre ligadas, por ele. O amor. Pena que não o quero, não nos quero, não te quero. És-me tanto que passas a ser nada. E como te disse, guardo-te acções. Guardo-te sucessos e futuros, guardo-te uma vida que poderias ter tido comigo, guardo-te vitórias. Guardo-te também rancor. Sempre fui rancorosa, de todos os defeitos que poderia ter, este é o que te magoa mais. E não veio de ti. E as palavras? As palavras são ecos, pequenos reflexos do que sinto, do que sinto há 20 anos, do que vivo e vou vivendo, cada vez aprendendo mais, cada vez tendo mais a noção de que somos para quem temos que ser. A vida e tu, ensinaram-me ambas a ver quem me faz bem, sim. Mas ensinaram-me ainda melhor a ver quem me faz mal.
É a primeira vez que te escrevo. Olho-te mas não te vejo, falas mas não te oiço. Eu falo-te. Mas não te digo. Deixo que fique a pairar entre nós.
Eu não te quero mais. A mágoa é demasiado grande para aguentar-te. É a primeira vez que te escrevo. É a última vez que te escrevo.

home

Disseram-me que a nossa casa é qualquer um lugar, seja uma mansão ou um colo, é onde somos nós e nos somos.
Se todos os beijos fossem tão lânguidos como os nossos, cujos abraços permanecem fortes e sem se desmoronar, se todos dissessem palavras tão cheias quanto as nossas, saberiam.
E saberiam também que não é por contrapartidas que a química corporal se vai. Nada se vai, a maneira como suspiras no meu ouvido, como gemes de prazer a cada olhar provocante, como me tocas, agarras e me tomas como tua. É isso, tu tomas-me como tua. Fundimo-nos cheios de mãos e braços, cheios de amor e desejo e isso mais ninguém sabe descrever, tal como eu. És a casa. És a minha casa, só isso. E por seres a minha casa, vês-me como mais ninguém vê. Cada abraço quando abrimos os olhos para enfrentar mais um dia sabe-me a um mundo, és o meu mundo.
Afinal, que outro propósito poderá ter a vida senão o da oportunidade de acordar todas as manhãs contigo debaixo dos lençóis?

rf.

Pediste-me para te escrever. Pediste que colocasse em palavras tudo o que vai na minha cabeça, no meu coração. Eu ter-te-ia dito que não consigo sequer escrever tudo o que sinto, mas por incrível que pareça, até as palavras me faltaram para te dizer tal coisa. Perdoa-me, perdoa-lhes. Elas não são como quero, eu não faço o que quero, eu nunca fui o que quero. Digo-te sim, para me entenderes. As minhas preocupações. Preocupa-me o facto de não tentares sequer entender-me. O que afinal se passa é o tempo. Tudo junto. Não me entrego a quem não tem coração para mim, ou sequer, um bocadinho de espaço lá. Eu sou grande, o meu afecto grande é, e não me consigo contentar com apenas um bocadinho de momentos quentes, de destrezas físicas e desejos curáveis. Eu desejo sempre: se não for um desejo efémero, deixa de ser desejo. Passa a ser só uma vontade. Nunca me contentei com vontades: farto-me depressa demais e a consciência cai em mim como se de um peso morto se tratasse. É por isso que te digo que mereço mais do que tu tens para me dar. Não gosto de acertar em incertezas, és como uma casa escura, sem luz, não sei onde são as portas para o caso de querer fugir. És um carcereiro. Também me é impossível controlar os sentimentos. Estou preenchida por um outro alguém, pode ser errado, aliás, eu sei que é errado. E mais errado ainda é sabê-lo. Mas o que hei-de eu fazer? Sempre tive uma queda para o impossível, prefiro lutar do que lutem por mim, não tem o mesmo sabor, nunca tem o mesmo sabor. Eu gosto de gostar dele, gosto de saber que é impossível e por sê-lo, concretizo-o a cada momento de desejo. É ele. E ele diz que pode ser para sempre. E se pode ser para sempre é desejo. É paixão. É amor.
Se as palavras fossem só palavras e não passassem disso, diria-mo-las mais vezes. Se fossem apenas letras conjugadas com letras, fazendo sons por vezes irritantes, diria-mo-las muito mais vezes. Se as palavras fossem apenas palavras, não matavamos alguém com um não ou não daríamos uma vida com um sim. Se as palavras não passassem de palavras, de vazios, ocos e sem significado, de apatia, de melancolia fechada, sem sentido algum, eu dar-te-ia todas as palavras do mundo em troca de um gesto. As palavras são o que de melhor existe. O que existe de mais completo e vazio, de mais cheio e forte, imperativo e vago de pensamentos. E há palavras que por serem isso só, palavras, nos deixam a pensar. São ditas sem sentido e sem significado. São dadas como quem suspira, cheias de controvérsias e sentidos antagónicos. Dessas palavras eu não sei se gosto. Permite-me ler o que dizes em pensamentos, permite-me saber com quem estou a lidar. Mas permite-me cair em ilusões. Permite-me fazer ilações erradas, devaneios impróprios para pessoas como eu. O que gosto mais é de certezas. De palavras curtas e objectivas. Aquelas palavras que para serem mais floreadas vêm acompanhadas de um carinho, cafuné ou beijo. Ou uma chapada. Gosto de 8 e 80. Não consigo pensar em falar coisas regulares, odeio a simetria e odeio quem o faz. É por isto que me encanto com o ridículo e me canso do agradável. Porque eu sinto o que não deveria sentir por aquilo que me faz sentir. E como me encanto com o inteligente. O eloquente. O politicamente correcto. O da capacidade argumentativa. O perspicaz. Ao longo da minha vida estabeleci limites sociais... e o quão estou prestes a quebrá-los sem que ninguém perceba, sem que ninguém saiba. Eu não o digo em palavras. Nem palavras vazias nem palavras cheias. Eu guardo para mim. E é tão bom ter a cabeça e o coração cheios delas...






"A minha mulher que eu amo é nota vinte na Escala de Musa. E nota vinte na Escala de Tusa também. Tem tanto de deusa como de fracasso, tanto de santa como de p*ta. A minha mulher que eu amo não é a mulher mais bonita do mundo e é por isso que é a mulher mais bonita do mundo. Não diz sempre as palavras certas, não procede sempre da melhor maneira, nem sequer é infalível quando se propõe fazer algo e é menos de metade do que aquilo que queria ser. E ainda assim nunca deixou de me dar as palavras necessárias a cada momento, os actos que eu preciso quando eu preciso deles, e atingir o destino que ambos queríamos atingir. A minha mulher que eu amo tem tanto de céu como de inferno, tanto de branco como de preto, tanto de noite como de luz. Farto-me dela porque só ela me farta, só ela me enche e preenche, só ela me faz sentir-me inteiro quando me falta tudo e só tenho a ela. F*de e faz amor comigo, grita, chora e geme com a mesma verdade. Zanga-se, atira-me com coisas ou pensa que atira só para se sentir melhor, não tem medo de mostrar o que lhe dói nem tem medo de mostrar o que a deixa eufórica. É tão pessoa como eu, tão actriz como eu sou actor, quando às vezes sentimos que o mundo pode cair e depois nos colamos um ao outro, e colamos, tijolo a tijolo, o que há para colar, e o mundo continua a rodar, sabendo que basta estarmos juntos para nada impedir o nosso caminho. A minha mulher que eu amo tem ciúmes e não os esconde, tem vontade de partir a cara a umas quantas, o secreto desejo de que mais ninguém me veja, para que só ela me possa ver. E eu tenho os mesmos ciúmes, a mesma vontade de esmagar de pancada quem simplesmente a olha e gosta, o nada secreto desejo de a guardar só para mim, fechada no nosso cantinho de para sempre. Mas depois o mundo chega e até nós gostamos. Gostamos de descobrir que a água do mar é fria demais mesmo quando é quente, que quando o frio aperta somos mesmo um corpo unido por quatro braços, que conseguimos rir até das pequenas desgraças das nossas diferenças. Debatemos ainda de qual de nós os gatos gostam mais, fazemos apostas que invariavelmente e incompetentemente perco e me fazem estranhamente sentir-me vencedor por dentro do sorriso dela. A minha mulher que eu amo tem a pele absoluta, o corpo derradeiro. Tem tanto de pecado como de remissão. É a minha musa e a minha tusa, o poema total e o orgasmo pleno. Tem tanto de independente como de precisada. Tanto de forte como de frágil. Tanto de morte como de vida. Tanto de alicerces como de terramoto. Tanto de fera como de presa, assassina feroz e pobre vítima. Gosta que a amem, simplesmente, de sentir-se amada por quem fatalmente ama. Sou dela, como nunca de ninguém. Teu, sim. Vem."

Como eu gostaria que um dia me amassem assim, tal como vem nos livros.

Às vezes, a melhor maneira de relaxar é cansarmo-nos ao máximo. É assim que funcionamos para esquecer. Para esquecermos temos que nos lembrar: lembrar até ao mais ínfimo pormenos, lembrar de todas as vezes em que rimos e chorámos por causa dessa pessoa, de quantas vezes perdemos as coisas que poderiam ser encontradas só com uma troca de olhares. De quantas vezes chegámos atrasados ao momento e quantas vezes nos apressámos demasiado. Para esquecer é preciso lembrar. Lembrar todos as palavras pronunciadas, todas as intenções falhadas e conselhos dados. Precisamos então, reparar na nossa mente o que nos faz mal, ter consciência que nem tudo foi por nossa culpa. E mais importante, nem tudo foi culpa da outra pessoa. Quando se ama, as maldades sobrepõem-se às boas intenções porque ao mínimo deslize tudo pode ser confundido, errado, desmoronado. Não é fácil mentalizarmo-nos de tudo isso. Mas é quando o fazemos, quando aceitamos tudo o que nos acontece, que esquecemos. Aliás, nós não esquecemos. Fica sempre guardado na nossa cabeça, no nosso coração. Apenas não nos lembramos mais, já não nos faz mal, já não nos parte o coração. É que em todas as situações, somos nós que escolhemos desistir. E não há nada de melhor para nós do que desistir de uma coisa que nos faz tanto mal.
Quero o que não cabe no regular, o que não se entende nos manuais, o que não acontece nos guiões. Quero a ruga esquisita, a mão descuidada, a estrada arriscada, a chuva, o vento, as unhas cravadas, o animal do instante. Quero ainda tentar o que ninguém fez, olhar para o imperdoável, gastar como um louco as possibilidades. Quero sobretudo o que me assusta, o abismo em segredo, o interior das tuas pernas, a maneira como o suor te escorre no centro do peito, e a forma impossível como te exprimes quando te vens.

Disseram-me que o teu beijo matava e eu não liguei,
há lá alguma maneira de sair com vida de ti?


Pedro Chagas Freitas
 

Nunca fui pessoa de pedir muito. Sempre soube os meus limites e o mais importante: os limites dos outros. Não há nada de errado nisso; muito pelo contrário. É certo fazermos tudo tendo em conta a vontade dos outros. O problema aqui reside quando a nossa vontade se torna o problema dos outros e vice-versa. Também nunca procurei este tipo de problemas: evito que se apeguem quando não pretendo fazer o mesmo, faço tudo o que puder para gostarem de mim quando estou apaixonada. Mas como toda a boa gente sabe, isto é algo que não se controla e sofremos tanto quanto fazemos sofrer. Não digo que sofram, porque, na minha idade, é usual confundir-se amizade com amor, as pessoas pensam que gostam tanto tanto tanto de uma pessoa que é capaz de ser amor, porque nunca amaram, porque não sabem o que é gostar mais de outra pessoa do que nós próprios, porque nunca sentiram tantas borboletas na barriga só de lembrar o nome, porque nunca decoraram as palavras pronunciadas, porque nunca guardaram para si os cheiros da pessoa amada. De qualquer das maneiras às vezes custa-me não corresponder de qualquer forma às pessoas que "gostam" de mim. Eu não gosto de ser odiada. Mas do gostar ao odiar vai um passo muito pequeno.. e eu não estou para ganhar um problema só para corresponder à vontade de outrém. Amén.

É quando esvaziamos os bolsos que reparamos que não precisamos de tanto. Eu não preciso de muita gente que anda a pairar na minha vida: vocês cansam-me. Tiram-me as energias. Eu não preciso de quem existe só para me sugar. Xô, podem ir para bem longe, que longe nada me afecta. Ou quase nada.

Já dizia a Tati...

"Dar não é fazer amor. Dar é dar. Fazer amor é lindo, é sublime, é encantador, é esplêndido. Mas dar é bom pra cacete. Dar é aquela coisa que alguém te puxa os cabelos da nuca. Te chama de nomes que eu não escreveria. Não te vira com delicadeza. Não sente vergonha de ritmos animais. Dar é bom. Melhor do que dar, só dar por dar. Dar sem querer casar. Sem querer apresentar pra mãe. Sem querer dar o primeiro abraço no Ano Novo. Dar porque o cara te esquenta a coluna vertebral. Te amolece o gingado. Te molha o instinto. Dar porque a vida é estressante e dar relaxa. Dar porque se você não der para ele hoje, vai dar amanhã, ou depois de amanhã. Tem pessoas que você vai acabar dando, não tem jeito. Dar sem esperar ouvir promessas, sem esperar ouvir carinhos, sem esperar ouvir futuro. Dar é bom, na hora. Durante um mês. Para os mais desavisados, talvez anos. Mas dar é dar demais e ficar vazio. Dar é não ganhar. É não ganhar um eu te amo baixinho perdido no meio do escuro. É não ganhar uma mão no ombro quando o caos da cidade parece querer te abduzir. É não ter alguém pra querer casar, para apresentar pra mãe, pra dar o primeiro abraço de Ano Novo e pra falar: “Que que cê acha amor?”. É não ter companhia garantida para viajar. É não ter para quem ligar quando recebe uma boa notícia. Dar é não querer dormir encaixadinho. É não ter alguém para ouvir seus dengos. Mas dar é inevitável, dê mesmo, dê sempre, dê muito. Mas dê mais ainda, muito mais do que qualquer coisa, uma chance ao amor. Esse sim é o maior tesão. Esse sim relaxa, cura o mau humor, ameniza todas as crises e faz você flutuar. Experimente ser amado."

Dos sorrisos cheios

Existem por aí perdidas e à solta certas pessoas. Essas mesmas pessoas deveriam passar mais despercebidas, para que quem é como eu, possa usá-las para benefício próprio. Não nos equivoquemos: essas pessoas são as pessoas de sorriso cheio, de gargalhada fácil e de atitudes nobres. Essas pessoas deveriam ser mais elas, para que as outras fiquem melhor, mais cheias, mais felizes.
Essas pessoas são exactamente aquilo que ando a precisar, pessoas que não me cobram palavras, que não me pedem abraços, que não me fazem exasperar. Essas pessoas apenas me arrancam sorrisos. E como é bom arrancar sorrisos delas também... :)



Depois existem aqueles que dizem que é fácil. Para seguir em frente e viver pensando no futuro. Para mudar de ares. Para ignorar. Para esquecer.
É fácil, claro, é fácil para todos eles. Que não te vêem no futuro. Que não vivem rodeados por ti, por lembranças tuas, por ares que possuem o teu cheiro. Que não precisam de ignorar porque não os afectas. Que não precisam esquecer porque não os cativaste. Controvérsias de sentimentos apoderam-se de mim sempre que me lembro de ti, de tudo o que vivemos e de tudo o que me fizeste. Como posso eu não te querer se no fundo te quero tanto? É assim tão estranho? Eu não te quero como és, agora, essa imagem escrita pelos outros, tu que cultivaste sempre a ideia de sermos nós próprios no matter what. Eu sou eu própria sim, no matter what. E por ser eu própria reajo à minha maneira, grito e berro silenciosamente porque sei que não tens que me ouvir. Que não tenho nada a ver com as coisas que fazes, que não posso cobrar amor a ninguém e muito menos atenção. Fico só comigo mesma, pensando que a vida afinal não é assim tão grata, que, olhando para nós os dois agora, estamos a cometer exactamente o mesmo erro. Eu e tu olhamos com amor a quem nos faz mal. A diferença é que tu poderias fazer-me tão mas tão bem... Bastava quereres.

Já estive a pontos de apertá-lo nos meus braços centenas de vezes. Eu sei o que se sente ao ver tantos mil encantos e não poder tocar... E no entanto é um impulso natural da humanidade querer tocar no que nos fere os sentidos. Não é o que fazem as crianças? E eu?

Saio de mim sem saber onde vou. Todos os rumos e direcções são intransigentes. Tenho mil portas e janelas disponíveis mas tenho mais medo ainda. Do desconhecido talvez? Soubesse eu e não estaria mais aqui. Já teria partido. Já era feliz noutro lugar. Com o sol a raiar-me a pele. Há quem me queime mais. Há quem não saiba, sequer, o mal que faz em pensar fazer bem a quem não merece.
É a vida. Não volto atrás por nada deste mundo. Ah, e se o fizer? É apenas para tomar balanço.

Fechasses tu os olhos. Lembrasses tu tudo o que tens a teu lado, enquanto te esqueces do que deixas para trás.
Fechasses tu os olhos.
Fizesses tu tudo o que queres fazer, sem pensar em quês nem porquês, porque tudo o que emana perguntas deve ser respondido por nós e não pelos outros.
Parasses. Parasses tu para refletir nos teus actos que tanto magoam e alegram, que provocam. Tanto matas como amas, quem sois vós afinal?
Tu que dás, és tão igual a quem pedes. Tu que falas, és tão igual a quem ouves. Tu que choras, és tão igual a quem ri. Em cada palavra proferida existem milhões de intenções, e tu não priorizas nenhuma delas. Porquê? Responde-te. Diz-te. Fala-te. Porque não te ouves? Eu não sei o que deves fazer. Soubesse eu e não estaria aqui, a falar para as paredes. Soubesse eu e não perderia tempo a tentar ensinar-te a ver o mundo a outros olhos. Estarei eu a perder tempo? Estarás tu a roubar o meu, como quem rouba doces a crianças? Tu não vais e vens quando queres, quem decide isso sou eu. Eu é que mando na minha vida, eu é que decido quem quero quem participe nela. Eu quero-te. Quero-te feliz. Quero-te bem.
Quem sou eu afinal? Fechasses tu os olhos por um segundo e eu mostrar-te-ia tudo o que tens estado a perder.
Fechasses tu os olhos...
Falemos então de amor. E quando falo ou penso em amor lembro-me de ti. Talvez por teres sido quem mais amei até hoje. Talvez por teres sido, só, quem amei.
Podias ter-me pedido para ir ter contigo até ao fim do mundo, onde todos os tempos corriam mais devagar e as pessoas não são o que parecem. Eu ter-te-ia descoberto de qualquer das maneiras, teria ido sim, buscar-te para te ter, durante todos os tempos que nos restassem. Mas isto sou eu a sonhar, porque já não estás aqui, já estiveste e os nossos tempos terminaram como os verões solarentos, que dão lugar a outonos frios e solitários, antes das árvores se despirem e o frio nos gelar os ossos. E se calhar é por isso que quando não tenho vontade de estar com mais ninguém, procuro-te e arranjo sempre tempo para ti, para estarmos juntos. E eu também sei que poderia ser tu, porque sei amar e sofrer da mesma forma, porque sei que ambos temos nos olhos um brilho de criança e um coração igual, um bocado maior que o habitual. Gostei imenso que tenhas feito parte dos meus dias, gostei de fazer parte dos teus e gostei ainda mais de ter sentido que poderia ter sido para sempre. Não acontece com todas as pessoas, mas sabes? De repente tudo pode acontecer, basta um instante e as pessoas cruzam-se por acaso para nunca mais se separarem, e é então que percebemos que nada é por acaso, que afinal estar naquele sítio, àquela hora, era apenas uma maneira de nos aproximarmos e ficarmos mais ricos, mais cheios, mais felizes e melhores. Sempre pensei que já sabias que ia ser assim, tinhas o sorriso dos sábios e o olhar dos adivinhos, e eu nunca soube. Por isso saboreei o presente com o presente que a vida me deu, o teu amor, a tua atenção, a tua estima, a tua lealdade e preocupação. Nunca irei esquecer tudo o que senti, cada vez que olhava para ti, via sempre além desses olhos de puro paraíso líquido, emoldurados de pestanas negras e grossas. Agora quero-te nos meus braços, sentir o calor do teu corpo, calor esse que aquece uma alma fria, minha primavera luminosa. Sempre foste o meu céu em pleno inferno. És uma pessoa a quem a vida nem sempre reservou coisas bonitas, muito pelo contrário, sempre te atirou areia para os olhos. Tu, com essa carinha de miúdo mas alma de homem grande, nunca te deixaste vencer e mostraste-te mais forte que todos os obstáculos e barreiras. Sempre amaste o que tiveste e lutaste para amar o que não tiveste. Sempre soubeste o que dizer e quando o dizer, tens o sorriso mais bonito que alguma vez vi e contagias toda a gente com a tua alegria. Eu marquei-te e tu marcaste-me de uma maneira irreversível. Nunca temos fim porque os amores nunca acabam, transformam-se sempre em outra forma de amor. Um amor mais calmo e sereno, passivo mas cheio. Um amor sem cobranças nem malícia, sem vinganças nem ciúmes. Um amor tão amor que deixa que outros amores existam. Um amor tão eterno que deixa que sejamos felizes mesmo que seja com outras pessoas, porque o amor é generoso e quer sempre o melhor para quem ama.
Dir-te-ia que és o amor da minha vida, por mais amores que vivamos os dois, porque seremos sempre um do outro, teremos sempre a atenção e o pensamento um do outro, por mais que as nossas vidas sigam caminhos diferentes. E um dia irei contar aos meus netos o quanto fui feliz, o quanto me marcaste e eles não irão acreditar que não ficámos juntos para sempre. E eu vou sorrir, porque sei que ficámos sempre juntos. No coração um do outro.

Feliz dia de São Valentim.
As pessoas desiludem. Não porque queiram. No seu íntimo, todas as intenções são propositadamente boas, esquecem-se é que não se baseia tudo nelas.
Partem-nos o coração. Deixam-nos para trás.
Tu desiludiste-me. Não te posso dizer mais do que entender, entendo todas as tuas atitudes e devaneios. Só não os aceito. Não aceito que tenhas pensado só em ti, que tenhas tido tantos erros de cálculo que me custa a entender onde foi que erraste, que somaste em vez de dividir, que multiplicaste zeros. Esqueceste-te de que tudo vezes zero é sempre zero. Nunca deverias ter posto a tua intensidade onde não existe nada. Foi comigo tal como deveria ter sido com outra qualquer, a grande e crucial diferença aqui é que sempre soube no que me metia, não sou criança para me iludir com contos de fada e mentiras mal contadas. Sabia e sei sempre onde me meto, com o que posso contar e com o que poderá vir. Daí ter-te sempre dito que não me partem o coração, porque salto sempre fora quando me ameaçam. Não deixo fazerem de mim gato sapato, porque analiso o amanhã. E tu não. Tu vives o hoje como queres, coitado, ainda és novo nestas coisas e tens muito para aprender. Esqueces-te sempre que existe um amanhã, e esse amanhã foge-te ao controlo, sai-te debaixo dos pés e ficas sempre sem saber com o que contar. Felizmente eu sei. E é por isso que te perdoo mas não aceito. Que te compreendo mas não quero viver com isso. Para trás ficam as expectativas idealizadas que fiz de ti; tu que te desiludiste tanto que acabaste por me desiludir a mim. Tomar as pessoas em alta conta tornou-se um risco inoportuno. Fiquemo-nos por aqui, tens muito mais para viver.
Mas não aceito pessoas medíocres na minha vida. Seja de que maneira for.
Lembrei-me do que esqueci e recordei o quanto espero por ti. Encontro-te em cada passo, devido ao asfalto, descalça, tropeço e caio novamente em mim.
Espero o encontro da tua pessoa, querendo eu que sejas tu ou não, envolva-me em cabos de aço, coração amarrado, desfaço a falta de atenção... Que ilusão.
Devolvo o sentimento barato que procura, noite a cidade escura, encontro uma ranhura, porta, fechadura que luz do outro lado espera.
Encontro-te, quem me dera, luz da Calma do frio que ao Calor dá cor da Primavera... amor...
Sinto que tu existes e que encontro, asfalto que dá sinceridade, um ponto de mocidade que vejo em ti. Esperei e encontrei, quem sabe que sabe que sei que no fundo o que esqueci, foi que amei um dia assim por alguém e quem sabe mais ninguém me perceberá, sentimento que do outro lado de lá, alguém com tempo o espera para explicar. Mas o vento trouxe-te para cá, aguento o sentimento, sim, cá dentro para que não o possas sentir. Abril, que de dia 1 mentira fazes e assim o dou a entender, sem te poder dizer o quão importante és. Simplesmente porque a tua felicidade dizes tu ser, por outro igual. Sem poder ser eu. Porque espero por ti afinal?

 

Ela sempre andou perdida. Sem rumo nem direcção sempre tentou seguir os passos de quem não sabia o caminho. Errou, voltou a errar e habituou-se, não é fácil conseguir seguir em frente sabendo o que vai deixando para trás. O que mais lhe importava não era para onde ia, mas sim como ia. O maior problema dela é que não tinha noção do que ia deixando... Nem ele sabia como a deixar porque não conseguia. Limitava-lhe os passos.
Lembrava-se dela quando ela não conseguia esquecer-se dele. As forças iam-lhe faltando porque ele, sim ele, egoísta e preconceituoso, não a levava consigo. Ela só teve uma solução. Caminhar a seu lado, mesmo sabendo que ia acabar numa rua sem saída, mesmo sabendo que ele não a iria ajudar porque também ele estava perdido. Ambos sabiam que não iriam a lado nenhum, porque no fundo, o que procuravam estava dentro um do outro. Completavam-se. Apenas juntos iriam chegar onde queriam. Mas não queriam saber... afinal...
Não se mostra o caminho a quem parte para se perder.
Sabe Deus como às vezes, em vez de escrever para ti, gostava de te gritar na cara. Mas seria impossível pois mesmo assim tu não me ouvirias. Começo por dizer que estás errado, completamente errado. É assim, os homens não aguentam as mulheres. Não entendem o seu jeito manhoso de ser, complicado e decidido. E tu decidiste que só as crianças te aceitam porque não fazem as perguntas que temes, porque são simples. E tu vais sempre pelo mais simples, sem saber como lidar com as bipolaridades das mulheres e acabas por não lhes conhecer a essência, que por ser tão complicada é tão simples de entender.Não te critico por tal: às vezes é bom afastarmo-nos dessas coisas, porque temos que nos colocar sempre em primeiro lugar. Mas pensa assim: as mulheres são fortes. Não se vão abaixo com qualquer coisa e tu não podes ter medo de as magoar. Só me esqueço que ainda não és um homem, que te estás a moldar e não sabes o que queres. Mas lembra-te... pior que negar amor a uma mulher, é partir o coração a uma criança. E todas elas vão partindo o teu, enquanto procuras o amor que só eu tenho para te dar e sempre o ignoraste.
"É ele. É sempre ele. Para onde quer que olhe, para onde quer que vá. Seja quem for que fotografe. É ele. É sempre ele. O rosto dele, os traços dele, o jeito dele. E ouço-o falar. E sei exactamente como ele fala, e conheço exactamente o tom de voz dele, cada pausa, cada esgar, cada momento em que pára para pensar e cada momento em que pára para sorrir. E sou eu que paro. Sou eu que, ao vê-lo em cada espaço por preencher dentro dos meus olhos (e o que são os olhos senão espaços por preencher; espaços sempre por preencher?), não paro. Continuo a encontrá-lo. E não sei o que hei-de fazer para lhe fugir (como se foge do que está por dentro dos olhos? como se escapa do que não pode ser eliminado, do que não é mais do que um pensamento dentro da cabeça? como se escapa do que não existe? como se acaba com o que nunca começou?), não sei o que hei-de fazer para me fugir."
Ontem à noite, enquanto lia antes de ir dormir, deparei-me com um trecho do livro que me deixou a pensar bastante:
"(...) quem estava sempre a falar de auras e campos de energia, das vibrações que emitíamos e de como o mero facto de estarmos perto de alguém podia alterar a nossa aura de forma significativa e, por conseguinte, o nosso estado de espírito. Era por isso que tínhamos reacções físicas muito fortes - tanto boas como más - a certas pessoas. Era por isso que parecia que ficávamos radiantes quando nos apaixonávamos pela primeira vez. (...)

Tive que parar de ler. Comecei a pensar em como isto é verdade, em como, em determinadas circunstâncias na minha vida, me cruzei com pessoas assim. Existem algumas pessoas que, apesar de directamente nunca me terem prejudicado em nada, eu simplesmente não gostava delas. E ainda conheço, pelo menos uma, assim. A rapariga nunca em hipótese alguma, me fez mal. Nem a conheço decentemente, cruzo-me com ela em algumas situações, sem coincidências porque partilhamos os mesmos lugares. Assim que trocamos olhares eu sinto uma repulsa enorme por aquela miúda. Emana-me más vibrações, deixa-me de rastos, com um mau humor incrível. No início pensei que fosse por me lembrar alguém que não gostava, alguém que me tinha prejudicado. Embora não soubesse quem era esse alguém, era mesmo essa a justificação esfarrapada que tinha encontrado. Afinal não, a rapariga nunca me afectou de maneira drástica, apenas não gosto de estar, cruzar, pensar sequer nela. Não gosto dela. E agora sei porquê.

Tal como em partes boas. Geralmente acontece-me com o sexo masculino e não é só em termos físicos e sexuais, há rapazes, homens que para mim são um porto de abrigo, pois a sua companhia deixa-me livre, bem, calma e feliz. Sinto um apoio enorme que não dá para explicar. Ultimamente, a companhia de alguém em particular deixa-me assim. Principalmente a níveis superiores à amizade. É uma atracção inexplicável, perco o controlo, o discernimento, sinto embebida nele, tresando a ele e não é a sexo nem a algo físico. É o pensamento. São as vibrações que emana. É o bem-estar que me proporciona. Obviamente que não acontecerá a todas as pessoas. O que sou para uns, não sou para outros. Mas acredito piamente que também provoque sentimentos e reacções destas a várias pessoas, daí o padrão de comportamento que demonstram ter comigo.
Só não sei como nem porquê, mas encontrei várias respostas para a minha vida em três linhas lidas, antes de adormecer.
Era cedo. Ela tinha medo de se agarrar a algo que lhe poderia fugir debaixo dos pés. Já o tinham feito; já conhecia a dor que era estatelar-se no chão, sem dó nem piedade, deixada para trás num caminho que já percorrera a dois. Não queria isso novamente. E então deixava-se ficar. Preparava-se para a queda mas esquecia-se de seguir em frente. Não era por não ter coragem, claro que não. Coragem tinha ela, em conseguir ver que nem tudo é como queremos e que as coisas não dependem só de nós. O problema é que ele não quis entender. Não quis perceber que tudo o que ela vivera até hoje a tornara numa mulher fria, sem pena de ninguém. Nunca ninguém tivera pena dela. Nunca ninguém quis saber se ela estava realmente bem. Toda a gente assumia que sim, claro que sim, uma mulher como ela, com aquele sorriso magnético só tinha era que estar bem. O que havia para estar mal?
Tudo.
E mesmo assim, ninguém quis saber. Ele não quis saber.
A maior dor é aquela em que não sabemos onde dói, porque dói. Por vezes não são os seus olhos que se extraviam, mas sim o seu coração. Como poderias impedir isso? Impedir de estar apaixonada(o) por outra pessoa aos mesmo tempo que está apaixonada(o) por nós? Como? Sendo magra(o)? Sendo linda(o)? Acreditem em mim, nem sempre resulta. Aliás, nunca resulta. Então como impedimos de partir o coração ao meio e nos dar apenas metade? Se somos quem o deveria receber por inteiro, como nos contentamos com metade?
Há amigos que para mim não são um problema. Nem nunca serão. Porque a maneira mais fácil de estragar uma bela amizade é falar ou mesmo pensar em sexo. Mas a maneira mais infalível de acabar com essa amizade é falar de qualquer outro tipo de amor.
"Ele me aperta como sempre, até que algum ossinho da minha coluna estale, e me diz, como sempre também: "Que é que você tem que eu sempre largo tudo e venho te ver?"
Tati Bernardi

Já lá vai o tempo eu que eu realmente pensei que tinha algo. Deixavas tudo de parte quando eu decidia por um pé na tua vida. Mas só um pé, porque já coloquei corpo inteiro, alma também, e o resultado não foi o mais bonito. Tive sorte de sair ilesa, pelo menos fisicamente. Mas eu gostava dos nossos joguinhos, de me meter com a tua lógica que, pelo menos comigo, nunca levava a melhor. Vinhas sempre como quem não quer a coisa, pronto para receber tudo o que estava disposta a dar, até porque já te dei mais que algum dia poderias vir a receber de outra qualquer. Mas o problema não passa por í, não. Tornei-me viciada em brincar com os teus sentimentos porque me habituaste a brincar com eles. Era simples. Eu chegava, brincava, pedia e exigia e tu davas. Quando me fartava, ia embora. Fácil e sem preocupações. O problema é que aprendeste as minhas manhas e passaste a fechar a porta, nem o pé eu consegui mais colocar. Já não bato à porta pois tu não ouves. Já não grito o teu nome porque tu não ligas ao que digo. Não digo que seja um desgosto de amor porque isso sim, tu já mo deste há muito, muito tempo atrás, mas é a falta de um brinquedo, de uma distracção, de algo que eu sabia que tinha e pensei que nunca ia perder. Partiste-te e jogaste-te fora. Ou então ofereceste-te como brinquedo a outra.

E só hoje notei a falta que me fazes...
"Concordo em absoluto: as relações amorosas são aquelas em que nos entregamos de forma mais genuína, mais inteira se não conseguimos ser leais com quem escolhemos passar a vida, parece-me difícil sermos com os outros. (...) Como tinhas razão. Porque tal como o falado hoje de manhã com uma amiga, a lealdade é uma coisa, a infidelidade é outra, completamente diferente. Para a deslealdade não há desculpa."

in Este Blog Precisa De Um Nome
You’re going to lose weight, and buy a closet full of new clothes, and whiten your teeth, and cut your hair, and move to a great apartment in a different city, and make new cooler friends. And you’re still going to be unhappy.
“you didn’t love her.
you just didn’t want to be alone.
or maybe, she was just good for your ego.
or, or maybe she just made you feel better about your miserable life.
but you didn’t love her,
because you don’t destroy people you love."
Hoje tomaste um passo importante. Sei disso porque te sigo, porque me obrigo a seguir-te para tentar encontrar alento neste futuro a que me imponho. Admito que não foi fácil. Admito até que vai ser ainda mais difícil aguentar todos os próximos dias sem ter mais nenhuma notícia tua, só a receber sms em que me criticas e tratas abaixo de cão sem me dar hipótese de resposta.
Não tenho muito a dizer-te, nada do que possa dizer vai aliviar tamanha dor que me persegue e o peso que sinto na consciência, pois acabei por fazer o que sempre, sempre, critiquei. Mas a vida é feita dessas coisas, nunca podemos dizer nunca. Mas de uma coisa poderás ter a certeza. Quem parte, parte para melhor. Mas deixa sempre o seu melhor para quem deixou.
Já viste a desgraça em que te enfiaste pensando que estarias a fazer a coisa certa? Sem me perguntares nada, como sempre. Pensaste demasiado com o coração, agiste por impulso, agora peso-te como um camião cheio de mágoas e feridas, pronto a esmagar-te a cabeça e o coração. Não queiras levar com tudo. Não queiras porque não consegues. No fundo tu só tentaste ser tu, mas esqueceste-te de que tu não eras tu por causa dele. Porque não conseguias, evitavas a todo o custo contrariá-lo, magoá-lo. Dizer-lhe o que sentias com medo de que ele deixasse de sentir. O teu maior erro foi ser egoísta. Uma rapariga tão carente de amor e no entanto, com tanto para lhe dar. Só não viste que não era para ele que o teu amor estava destinado. Empurraste o quanto quiseste, forçaste o quanto pudeste mas no fim não deu em nada. Deu em peso. Deu no camião. Não queiras continuar com esse jogo desmedido de oferecer amor só porque sim. Guarda-o para ti, guarda-o bem. Porque não há nada melhor do que ter amor próprio.

A tua consciência.
Por todas as vezes em que me fizeste acreditar que tudo começa quando queremos. Por todas as vezes em que me abraçaste. Por todas as vezes em que me gritaste. Por todas as vezes em que me tiraste do sério e me beijaste logo depois. Por todas as vezes em que virei o telemóvel e o voltei a jogar para cima da cama, só para não falar contigo. Por todas as vezes em que te procurei vezes sem conta e tu não estavas. Por todas as vezes em que encontraste quando eu estava perdida. Por todas as vezes em que tu disseste sim e não querias mais. Por todas as vezes em que eu queria mais e disse não. Por todas as vezes em que nos encontrámos os dois em caminhos paralelos mas diferentes. Por todas as vezes em que insultei metaforicamente, porque tu não entendias. Por todas as vezes que te corrigi, por todas as vezes que não me apontaste erros. Por todas as vezes em que quis que ficasses e tu ficavas. Por todas as vezes em que quis ir embora mas não tive coragem de te dizer. Por todas as vezes em que choraste nos meus braços, por todas as vezes que eu ri nos teus. Por todas as vezes em que ficámos só a olhar um para o outro. Por todas as vezes que descobria defeitos em ti. Por todas as vezes em que dizias que eu era perfeita. Por todas as vezes em que chorei de impotência, por todas as vezes em que tu conseguiste e eu não. Por todas as vezes que não foram só às vezes, foram sempre, foram a todo o momento, foram perpétuos enquanto duraram.

Obrigada, LS.