Leitor

Era cedo. Ela tinha medo de se agarrar a algo que lhe poderia fugir debaixo dos pés. Já o tinham feito; já conhecia a dor que era estatelar-se no chão, sem dó nem piedade, deixada para trás num caminho que já percorrera a dois. Não queria isso novamente. E então deixava-se ficar. Preparava-se para a queda mas esquecia-se de seguir em frente. Não era por não ter coragem, claro que não. Coragem tinha ela, em conseguir ver que nem tudo é como queremos e que as coisas não dependem só de nós. O problema é que ele não quis entender. Não quis perceber que tudo o que ela vivera até hoje a tornara numa mulher fria, sem pena de ninguém. Nunca ninguém tivera pena dela. Nunca ninguém quis saber se ela estava realmente bem. Toda a gente assumia que sim, claro que sim, uma mulher como ela, com aquele sorriso magnético só tinha era que estar bem. O que havia para estar mal?
Tudo.
E mesmo assim, ninguém quis saber. Ele não quis saber.

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