Leitor

Eu já nem sei se te quero. Eu já nem sei se fui ou se sou, se estou. Se vou por mim. Sinto-me afogada no mar que és gostares de mim. No seres tu em tudo. Nas paredes da casa, no meu olhar melancólico, no soprar do vento forte, no cheiro a lareira acesa, no sol que ilumina as ondas, no cantar dos pássaros em plena primavera. Eu podia dizer que não quero mais. Eu já nem sei se te quero. Eu podia dizer que desisto. Eu já nem sei porque insisto. Pelo quê. Para quê.
Se espero aquilo que nem sei esperar, qual é o propósito? Tu continuas impávido e sereno, à espera de uma palavra, de um gesto. De um gesto teu também, porque já não mo sabes dar. Porque tudo o que fizeste foi dar e já nem sabes o que tens. Não mo transmites mas desesperas. E é isso que me irrita. Que não transmitas. Que não saibas. Que não digas. Quiçá eu soubesse então se te quero. Porque mostravas e não mostras mais, porque eras aquilo que não és mais. E eu não sou a mesma. Porque conheci os teus devaneios e sei que não gostam dos meus. Porque conheci a tua natureza e sei que não és feito do mesmo material que eu. Não és composto pelos meus medos, nem anseios. Muito menos desejos. Nem sonhos, nem amores, nem ilusões. Não sabes do que sou feita porque não sabes o que és. E por isso continuas aí, impávido e sereno, na mesma, à espera que o tempo passe, que traga aquilo que não queres, ou queres, ou devias querer. E eu continuo a querer que o tempo não venha, porque sei que vai trazer aquilo que quero, ou não quero, ou devia não querer. O destino juntou duas linhas que se perderam no tempo e no espaço, que não se encontram nem se enleiam. Que deram laços que se desataram e agora só lhes resta os nós. E nós. E nós sem saber o que fazer. Porque sabemos o que queremos sem saber como lá chegar. Porque tu não calças os meus sapatos e eu não quero fazer o teu caminho. Somos crentes em crenças que não crêem em nós, nos dois. Se ao menos as coisas fossem tão fáceis quanto as palavras. Eu diria que não te quero apesar de te querer. Eu diria que desisto apesar de, cá dentro, bem fundo da minha alma, eu saber que nunca vou parar de insistir em ter-te na minha vida. Porque parece certo. Pareces demasiado certo. E talvez por isso é que eu não sei se te quero. Porque eu não sou, porque tu sabes que eu não sou. E mesmo assim continuas impávido e sereno, como se conseguisses caminhar comigo ao colo, se conseguisses levar toda a minha bagagem sem te doerem as costas. Tu sabes que já começam a doer. Tu sabes que não sabes se consegues. E eu sei que não consegues. E então espero por um bocadinho de tempo, até que tu me digas que não consegues, para eu saber se tento ir pelo meu pé, se levo a minha bagagem ou jogo fora. Assim eu sei que não és demasiado certo. Que tens as tuas lacunas e devaneios, que não és feito do mesmo material que eu mas que existes, e que me deixas existir. Neste ponto...
deixámo-nos de ser os dois.

march on.



Não faz assim tanto tempo que eu ouvi alguém dizer uma grande verdade: “Há uma altura na vida em que tens que abrir mão do selvagem dentro de ti para manter amigos, empregos e constituir família. Ou podes escolher ser um louco e viver sozinho. É triste saber que não pude fazer nada. Que, ao longo de todo este tempo, não ganhei o direito de fazer alguma coisa. De me manifestar. De exercer sequer um bocadinho de bom senso nessa tua cabeça dura. É triste quando amigos se tornam inimigos, mas o pior é quando eles se tornam desconhecidos. É triste realidade constatar, que entre ditos amigos, a falta de utilidade da amizade começa com a contínua escassez do que dizer. Fui perdendo as palavras porque já não me conseguias ouvir. Porque, na tua incompreendida maneira de ser, eu é que estava sempre errada. E eu sei, eu sei que irei perder amigos, decepcionar admiradores, ganhar desafetos e críticos, mas pelo menos poderei lavar as minhas mãos e ficar de consciência tranquila de que nunca te falhei. Eu nunca te faltei. E a única coisa que não vou perder é a minha alma. Fiel à minha consciência eu sou fiel àquilo que te chamei um dia. E por mais que todas as terapias do mundo, todas as distrações possíveis, todas as auto-ajudas do universo e todos os amigos experientes do planeta me digam que eu não preciso definitivamente de ti, a minha alma grita aqui dentro que, por mais feliz que eu esteja, a felicidade é sempre pela metade. E sabes que mais? Eu preferia morrer tua amiga do que quebrar algum elo misterioso que nos unia e perder-te para sempre. Perder-te como sempre. Às vezes tenho vontade de te perguntar baixinho se não gostas nem um bocadinho de mim. Um bocadinho que seja. Tu deslumbravas-me sempre. De todas as vezes que eu te via, deslumbravas-me sempre. E no fundo o que me tem consolado ao longo de todo este tempo é o facto de que os amigos não traem nem decepcionam. Na casa da decepção se não dormir um amigo, dorme um irmão.
O mais triste é mesmo quando descobrimos que aqueles que se diziam nossos amigos, nos esquecem na primeira oportunidade. E justamente quando tinham em mãos a maior oportunidade de provar sua amizade. A intensidade da decepção é proporcional à amizade, ao afecto, ao amor e ao carinho que se tem por quem lhe proporcionou tal dor.
(...)
Não há motivos para tristeza no final de uma amizade que nunca existiu de ambos os lados.











Eu acho que perdemos muito tempo a pensar no que é que não somos suficientes. No porquê de não sermos bons que chegue. Perdemos muito tempo a pensar demasiado, a analisar demasiado. Perdemos muito tempo a colocar-nos para baixo, tanto que, bem, não percebemos que somos bons que chegue. Que somos suficientes. Passamos tanto tempo com a cabeça em baixo e o coração fechado e nunca aproveitamos a oportunidade de olhar para cima e ver que o sol continua a brilhar e que amanhã é outro dia.
Comecei a mentir por precaução, e ninguém me avisou do perigo de ser tão precavida; porque depois nunca mais a mentira foi embora. E tanto menti que comecei a mentir até a minha própria mentira. E isso - já atordoada eu sentia - isso era dizer a verdade. Até que decaí tanto que a mentira que eu dizia era crua, simples, curta: eu dizia a verdade bruta.
Essas pessoas acham que eu nunca tentei, ou se tentei, não fui o suficiente, tudo bem. Posso não ter sido, mas se houve risos e momentos felizes, houve felicidade? Pois é, e eu fico perdida nesse mar de dúvidas, e até de solidão, seria mentira dizer que ao colocar a cabeça na almofada não és tu que me à mente.

Quero esta trilogia. Por favor.

“But life has plans for all people. Even if those plans separate us from the ones we love. No matter where my life takes me or yours takes you, I will love you whether there are a thousand miles between us or none at all.”

— Courtney Peppernell II Pillow Thoughts


“If I were to build a house
I’d have your arms as the walls
Your eyes as the windows
Your smile as the front door
Your heart as the fireplace
And your soul as my light
And in this house
I’d place my faith
Knowing I’d finally
found a home”

— Courtney Peppernell II Pillow Thoughts

“We were in the grocery store. You wanted ice cream even though it was cold out. You couldn’t decide which flavour and I was teasing you able being so indecisive sometimes. I suggested we just buy every flavour in the store and you laughed. It was the kind of laugh I could listen to for the rest of my life. You said I was silly and you kissed me, pressed against me so I could feel how cold the top of your nose was. You were only in sweats, hair so messy from being in bed all afternoon. And in that moment I knew I loved you more than anyone else I had ever loved. In that moment I know you were my once in a lifetime. And yet all we were doing was looking for ice cream.”

— Looking for Ice Cream | Courtney Peppernell, Pillow Thoughts.

“I don’t remember what time it was but it was late and she had fallen asleep, exhausted from the day. I had curled into her, pressed my face into the curve of her neck and she smelt the way she always does; of sweetness and flowers and all the beautiful things in life. I felt her pulse against my lips, as they rested there, connected to each beat as it found its way through her body. And I remember thinking it was so strange at first, to feel her pulse against my lips because it was so loud, and it drowned out any other feeling in that moment. It was just the beat of her heart and my lips. Then I started to think about this life that I had crawled up next to, and how important it was in my own life. And then I thought about the woman this life belonged to; with her scent of flowers and her pulse beating against my lips and I realised just how much I loved this woman and how much I valued her life and our life together. So I promised that my lips would speak only kindness to her, that they wouldn’t dare kiss anyone else, and if anybody ever hurt her, then my lips would comfort her. It was late and I felt her pulse against my lips and it reminded me of how much I loved the woman the pulse belonged to.”

— P U L S E

“We all want that. When you feel you have a purpose in someone’s life. Even if that purpose is to make toasted sandwiches on a Friday night or listen when she talks about her day. When you are holding her because she’s sad and you can feel yourself hugging the sadness away, and there is nothing that will make you move or turn around until the tears are dry and she says she’s okay. You go to sleep thinking that if tomorrow comes and you cannot kiss her, every other kiss wasn’t enough. Each day the curve of her lips and the way her hair falls down her back makes you wonder if there is anything more beautiful. And then you are reminded of all the small details; like both your toothbrushes sitting side by side on the basin, walking the dog as the day is fading away and dreaming about the things we forget as we grow older. And you feel at peace, because there is nothing more out there. Even though the world will try to convince you that the grass is always greener you know deep in your heart that it is already green over here. You see it every day, in her.”

we all want that


Orangetree



Fizeram-nos acreditar que o amor mesmo, aquele amor verdadeiro, só acontece uma vez, geralmente antes dos 30 anos. Não nos contaram que o amor não é racionado nem chega com hora marcada.

Fizeram-nos acreditar que cada um de nós é a metade de uma laranja, e que a vida só ganha sentido quando encontramos a outra metade. Não contaram que já nascemos inteiros, que ninguém na nossa vida merece carregar nas costas a responsabilidade de completar o que nos falta: nós crescemos através de nós mesmos. Se estivermos em boa companhia, é só mais rápido.

Fizeram-nos acreditar numa fórmula chamada "dois em um", duas pessoas que pensam igual, agem igual, que isso era que funcionava. Não nos contaram que isso tem nome: anulação. Que só sendo indivíduos com personalidade própria é que poderemos ter uma relação saudável.

Fizeram-nos acreditar que o casamento é obrigatório e que desejos fora de hora devem ser reprimidos. Fizeram-nos acreditar que os bonitos e magros são mais amados, que os que têm pouca libido são para serem postos de lado, que os que têm muito não são confiáveis, e que sempre haverá um chinelo velho para um pé torto. Ninguém nos disse que chinelos velhos também têm o seu valor, já que não nos aleijam, e que existem mais cabeças tortas do que pés.

Fizeram-nos acreditar que só há uma fórmula de ser feliz, a mesma para todos, e os que escapam dela estão condenados à marginalidade. Não nos contaram que estas fórmulas são erradas, 
frustram as pessoas, são alienantes, e que poderíamos tentar outras alternativas menos convencionais.

Luto por um mundo onde não se acredite na metade da laranja
Voto por um mundo de seres mais conscientes, mais realistas; um mundo mais atual e menos fantasioso.
Sonho em viver num mundo onde ao me relacionar com alguém, ele não me delegue a responsabilidade de o fazer feliz.
Porque a metade de ti não existe, tu já nasceste completo.
Que sejamos felizes sozinhos, de forma individual. Que o outro seja apenas a pessoa com quem gostas de caminhar, e não as tuas 
muletas.

This rain.

“I don't want to be alone, I want to be left alone.”




Os grandes amores são assim mesmo, dão-nos o caminho da emoção, mas os sentimentos de verdade são apenas nossos, ninguém copia, ninguém leva, ninguém divide. E eu sinto falta da perdição involuntária que era congelar na tua presença tão insignificante. Era a vida a mostrar-se mais poderosa do que eu e minhas listas onde anoto o certo e errado. Era a natureza a provar-me ser mais óbvia do que todas as minhas crenças. Não mandava no que sentia por ti,  não aceitava, não queria e, ainda assim, era inundada diariamente por uma vida trezentas vezes maior que a minha. Eu amava-te por causa da vida e não por minha causa. E isso era lindo. Tu eras lindo. Simplesmente isso. Tu, uma pessoa sem poesia, sem dor, sem assunto para aguentar o silêncio, sem alma para aguentar apenas a nossa presença, sem tempo para que o tempo parasse. Tu, a pessoa que eu ainda vejo a passar no corredor e a levar-me embora, responsável por todas as minhas manhãs sem esperança, noites sem aconchego, tardes sem beleza.
Sinto falta de quando a imensa distância ainda me deixava ver-te do outro lado da rua, a passar apressado com teus ombros perfeitos. Sinto falta de me lembrar que tu vias tanto, que preferias fingir que não vias nada. Sinto falta da tua tristeza, disfarçada em arrogância, de não prestares atenção, de não teres nem amor, nem vida, nem paciência, nem músculos, nem medo, nem alma suficientes para me prender.
Prometi não tentar entender e apenas sentir, sentir mais uma vez, sentir apenas a falta de tocar na tua pele lisa, nos teus lábios, sinto falta do mistério que era amar a última pessoa do mundo que eu amaria.
Tenho um milhão de motivos para fugir de pensar em ti, mas em todos esses sítios tu vais comigo. Seguras a minha mão na hora de atravessar a rua, olhas-me triste quando eu olho para o telemóvel pela milésima vez, sentes orgulho de mim quando solto uma gargalhada e viras a cara se algum homem vem falar comigo. Preferes não ver, mas eu vejo-te o tempo todo.
Acho normal. Acho perfeitamente normal lembrar com carinho e saudade o facto de que tu arranjavas sempre maneira de me mandar mensagens em datas festivas. Estivesses tu casado ou a namorar ou preso num templo budista, arranjavas sempre maneira. Era como se dissesses, sem dizer “eu sei que já passou muito tempo, mas ainda te amo”.

és

Há uma coisa arbitrária que eu tenho para te dizer: tu tens o meu tipo preferido de beleza, que é a beleza que surge da felicidade profunda. É isso que eu vejo quando olho para as tuas fotografias; penso sempre "uau, que pessoa feliz!" e é isso que nos torna mesmo bonitos. A minha boca ainda não se calou desde que tu a beijaste. A ideia de que poderás, eventualmente, beijá-la novamente ficou presa no meu cérebro, que ainda não parou de pensar em ti desde que, bem, antes de qualquer beijo. E agora a prospetiva desses beijos parece atingir-me como um furacão quando sobes as escadas e páras num degrau para olhar para mim. Certas pessoas são assim, um olhar meigo, uma maneira doce de ser, uma beleza indescritível, gestos, modos, falar, pensar e agir. Que nos vão cativando, conquistando, e quando damos por nós, estamos ali, a admirar, sem nada a dizer, para alguém que é belo, pelo simples facto de existir. 

Oceans

Com o tempo, quanto mais madura e segura de mim mesma me tornei, mais verifiquei que eu há poucos anos atrás ainda fazia parte de um grupo mundial de pessoas cujo coração acredita no bem dos outros sem sequer pestanejar. 
Eu acreditava piamente que as pessoas tinham o direito de errar sempre, porque eram humanas. Eu acreditava que se amasse alguém, isso bastaria para que a pessoa nunca me desiludisse. Achava que o meu amor por essa pessoa bastaria para que a pessoa, ciente do meu amor, se acautelasse com as suas acções. Note-se que eu raramente amei pessoas (amigos, família). Amor é um sentimento para mim muito raro. Tão raro que as pessoas que amei ou amo contam-se pelos dedos de uma mão. Eu posso gostar das pessoas. Mas amá-las, isso é uma história completamente diferente que daria para grandes livros.
Enfim. Acreditava no bem das pessoas. No lado bom. Arranjava justificações para o seu lado mau. Era devido a algo que correra mal. Era devido ao mau tempo. Era devido a terem dormido mal. Era devido a estarem frustradas. Era devido às suas tristezas ou depressão. Era devido à chuva que naquele dia estava mais forte.
Quanto mais segura de mim me tornei e quanto mais cresci mentalmente, mais me apercebi de que as pessoas têm o direito de errar, mas que se alguém errar grandemente connosco, ou mais do que as vezes aceitáveis, o mínimo que devemos de exigir à nossa própria auto-estima é que as arrasemos de tal maneira que nunca mais levantam um dedo para nos incomodarem. 
Tornei-me, assim e à custa de muito esforço, uma pessoa tão segura de si que acredito piamente que isso me trouxe coisas muito boas, como ter-me protegido contra falsos sentimentalismos, desilusões, frustrações e pessoas que, dita a boa da verdade (que isto não há nada como a verdade) não valiam o esforço de as entender, ou desculpar. Também me trouxe (como tudo na vida tem dois lados) um lado menos positivo, que foi ter-me tornado pouco sensível a determinados momentos. 

Actualmente, é preciso realmente muito, para me incomodarem. Eu sei perfeitamente o que quero, como quero e o que tolero que me digam. E se a pessoa em questão achar por bem ou por graça testar os meus limites e começar a desconversar ou a não respeitar o que eu digo, pois pode ter a certeza que sai da conversa mais arrasada do que um animal atropelado por um camião TIR em alta rodagem. 
Uma pessoa já muito sábia e com muitos anos na pele, disse-me, há dois anos atrás, que nós é que ensinamos aos outros como é que queremos que nos tratem. Se lhes ensinamos que nos podem tratar mal ou faltar-nos ao respeito, eles vão fazer exactamente como lhes ensinámos. Se lhes ensinamos que os amamos no matter what, eles vão testar essa teoria e fazer tudo o que lhes apetecer, porque afinal de contas, nós os amamos no matter what
Este é só o maior erro da história da humanidade. Gostarmos dos outros sem restrições ou racionalidade. Cada vez mais acredito que a racionalidade é um bem essencial às relações humanas. Se só racionalidade é bom? Não. De maneira nenhuma. Continuo a achar que podemos amar alguém com todo o nosso coração. Mas tenho a certeza absoluta de que devemos levar o nosso cérebro connosco.


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Há quem chame de coincidência, acaso, destino; há quem diga que certas coisas estão escritas, que o que tem que acontecer, querendo ou não, acontece. Prefiro dizer que, não importa se foi um motivo de força maior, superior, divina, se foi uma mãozinha de Deus, Buda, Alá ou um empurrão das estrelas, cometas, alienígenas, gnomos, fadas, anjos, o que importa é que o encontro aconteceu. Não um encontro de olhos, mãos, bocas, braços, mas um encontro de corações cansados. De procurar sem achar, de achar só o que era descartavelmente vulgar.
Então percebi que o amor é um senhor teimoso de braços cruzados, emburrado até conseguir aquilo que quer. Descobri que podes até cruzar o mundo, virar-te do avesso. Mudar os teus gostos, os teus planos. Podes até casar várias vezes. Ter filhos e mudar de cidade. Mas o que tiver que ser teu, sempre será. Não vale a pena chatearmo-nos com o amor. Ele até pode dar um tempo, tréguas, mas quando escolhe duas vidas, ambas viram bússola uma da outra. Não se perdem e muito menos se desconectam.
O destino, isso a que damos o nome de destino, como todas as coisas deste mundo, não conhece a linha recta. O nosso grande engano, devido ao costume que temos de tudo explicar retrospectivamente em função de um resultado final, portanto conhecido, é imaginar o destino como uma flecha apontada directamente a um alvo que, por assim dizer, estivesse a sua espera desde o princípio, sem se mover. Ora, pelo contrário, o destino hesita muitíssimo, tem dúvidas, leva tempo a decidir-se.
O que verdadeiramente se passa não é que as coisas acontecem a cada um segundo determinado destino, mas que cada um interpreta as coisas que lhe aconteceram, se tem capacidade para tal, dispondo-as em determinado sentido - o que significa, segundo determinado destino.
Podemos muito bem, se for esse o nosso desejo, vaguear sem destino pelo vasto mundo do acaso. Que é como quem diz, sem raízes, exactamente da mesma maneira que a semente alada de certas plantas esvoaça ao sabor da brisa primaveril.
E, contudo, não faltará ao mesmo tempo quem negue a existência daquilo a que se convencionou chamar o destino. O que está feito, feito está, o que tem se ser tem muita força e por aí fora. Por outras palavras, quer queiramos quer não, a nossa existência resume-se a uma sucessão de instantes passageiros aprisionados entre o «tudo» que ficou para trás e o «nada» que temos pela frente. Decididamente, neste mundo, não há lugar para as coincidências nem para as probabilidades.
Na verdade, porém, não se pode dizer que entre esses dois pontos de vista exista uma grande diferença. O que se passa - como, de resto, em qualquer confronto de opiniões - é o mesmo que sucede com certos pratos culinários: são conhecidos por nomes diferentes mas, na prática, o resultado não varia. 

Se o medo tivesse sido mais forte do que eu talvez nós não estivéssemos aqui, agora, juntos, unidos, felizes, achados, encontrados e perdidos no meio de um sentimento que, até então, eu desconhecia. E, que bom, eu fui valente. E, que bom, a tua valentia deu um chega pra lá nos pseudo-receios que apareciam e desapareciam pelo meio do caminho. E, que bom, amar-te faz com que tu te ames mais. E, que bom, o teu amor faz com que eu me ame mais. Até que nada nos separe.






gelo







Vocês acham que era a altura certa? Eu não acho que era a altura certa.

Eles dizem que passa com a idade, mas a idade passa
E ainda nada. Nada, e o tempo não suaviza...
Ele diz que sou de gelo, mas a verdade é que ainda sinto
Todas as queimaduras na pele e nenhuma cicatriza
Desculpa! Esgotei as forças a gerir o meu tempo.
Queres dar um tempo? Eu dou-te um tempo:
Um minuto para arrumares as tuas coisas e me
desapareceres da frente! Estás contente? Isso é óptimo...
Só me ajudas a definir a relação do peso amor-ódio.
Que se fodam prioridades! Se a vida são dois dias
Eu vou dedicar um dia aos beats e outro dia às letras
Para poder escrever a melhor música de sempre
Sobre como desperdicei a vida a tentar ser diferente
Sobre os entes queridos e sobre como os esqueci para ser uma pedra de gelo
E, mesmo assim, não consegui sê-lo.
Gelo! Invejo o gelo!
O processo é lento mas pouco a pouco consigo. Afasta-me! Sem pensar se isso me afecta. Distância só vai mostrar que não era a altura certa.
Bate-me! Sem hesitar, por eu ser frágil. Essa dor só vai tornar tudo mais fácil.
Eu sei, eu sei que sou estúpida!
Ainda assim, aqui estou eu de novo à tua porta, de
coração partido e tudo.
Situações extremas exigem medidas desesperadas.
Olha para mim a espalhar pétalas de rosa pela casa.
Casa comigo, só um minuto. 
Mas, por favor, esquece e abandona-me antes de eu voltar a estragar tudo.
Porque eu vou! Inevitável. Sou imperadora da solidão no meu palácio de gelo?
Caminho sozinha, cumprimento desconhecidos.
Como uma mendiga, durmo em jornais à porta de casinos.
Tipo, só para estar integrada numa comunidade.
Nem que seja comunidade à parte da sociedade, é tranquilo.
Admito, não passa de promoção barata. O meu defeito é a minha qualidade: Não sinto nada.
E fugir era a última escapatória. Até conseguir escrever um final diferente para esta história, mas até lá...

Vocês acham que era a altura certa? Eu não acho que era a altura certa.

nerve

battle cry

Don’t grieve. Anything you lose comes round in another form.


Perder alguém não é um acto isolado. É uma sucessão. Perde-se todos os dias. Todas as horas.
Perco-te todos os dias em que tu não estás. Perco-te sempre que me faltas. Perco-te de novo em cada lembrança. P
erco-te quando não falamos. Quando acordo, encadeada com o sol que entra pela janela e, ao procurar o meu telemóvel, a esperança morre por querer ler uma mensagem que não está lá. Eu perco-te nos momentos do entretanto, nas horas de silencio, onde eu não faço mais senão pensar em ti. Perco-te quando vejo determinados filmes, quando ouço certas músicas, quando vou a certos lugares que estão preenchidos com partes tuas e com memórias de como me fazias sentir. E dói tudo como se fosse a primeira vez.
Eu costumava pensar que não sobreviveria um dia sem o teu sorriso. Sem te dizer qualquer coisa e ouvir a tua voz como resposta. Depois, esse dia chegou e foi brutalmente difícil, mas o seguinte foi pior. E soube, com um sentimento profundo, que iria ficar pior e que eu não estaria bem por longo tempo. Pensava que só podia sentir a tua falta quando estivesse sozinha, mas isso não é verdade. Eu sinto a tua falta até quando estou rodeada de pessoas. Porque elas não são tu. Mas tu estás sempre lá... em algum lado. Não consigo não pensar em ti.
Porque perder alguém não é uma ocasião ou um ponto no tempo. Não acontece uma vez. Acontece uma e outra vez. Eu perco-te todas as vezes que agarro na tua caneca preferida; sempre que oiço o teu nome na boca de outra pessoa ou quando descubro a tua t-shirt velha no fundo da pilha de roupa para lavar. Eu perco-te todas as vezes que penso em beijar-te, abraçar-te ou querer-te. Eu vou para a cama à noite e perco-te, quando desejava poder contar-te o meu dia. E de manhã, quando acordo e encontro o vazio entre os lençóis, eu começo a perder-te novamente desde o início.

O tu não estares é eu não estar em mim. O tu não estares leva-me de mim. Tens o meu pensamento contigo. Tens o meu sorriso contigo. A tua ausência sufoca-me e enrola-me em mim. A tua falta é eu faltar em mim. É ausentar-me daqui e estar aí. Faço-me falta aqui. Fazes-me falta em mim.
 (...)
A maioria das pessoas tem medo de estar mal. Tem aversão às lágrimas e à dor. Não se permitem ir lá abaixo pois têm medo de lá ficar. Vivem uma vida morna. Nem boa, nem má. Sem altos, nem baixos. Sem lágrimas, mas também sem gargalhadas. Normal.
Eu tenho medo do normal. Deixem-me chorar sozinha. Sei que quando conseguir me vou rir. Deixem-me curtir a minha dor, depois eu partilho as minhas alegrias.
Permitam-me quebrar. Chorar. Espernear. Gritar.
Assim. Parada. Literalmente em modo suspenso enquanto tu não vens. Com a vida em modo de pausa. Quieta. Calada. Imperturbável. Demoras? Por favor. Um dia, eu juro que te entendo por completo. Que te consigo ler todas as entrelinhas. Que consigo discernir o que vai dentro das tuas ideias mais recônditas. Hoje percebo o quão perdido nos teus pensamentos estás. Quão ausente de ti mesmo. Quão abominavelmente chateado te encontras.
(...)
Mas por agora... apetecia-me acordar contigo. Assim, devagarinho e à média luz. Enquanto me tomas nos teus braços e me dizes coisas bonitas. Enquanto me dás beijos intervalados com sorrisos. Ficar deitada a olhar para o mar que trazes nos teus olhos, enquanto me falas do que não sei. Fechar os olhos e quando os voltar a abrir, ainda aqui estares. Com o pequeno-almoço. Sumo de laranja e torradas. Com imensa manteiga, por favor.
Hoje, tal como ontem, apetecia-me ter acordado contigo.
Porque há coisas que não sei explicar. Que não quero sequer entender ou definir. Que sei que são sentidas e pronto. E o que se sente, pode estar para lá da razão, mas está sempre dentro de nós. 

Inexplicavelmente. Indefinidamente. Infinitamente.








     




Eu sou muito otária. Ou masoquista. Ou ambas as coisas. Sempre a tentar descobrir uma maneira diferente de me foder à grande. E o pior, ou melhor, é que consigo sempre surpreender-me. Fosse assim com tudo o resto, e seria uma mulher bem melhor. 

i'm so lonesome i could cry





Começo a achar que o teu dom é apenas o da palavra. O de enganar - ludibriar com o toque, o olhar profundo, as frases feitas, as necessidades fingidas, as saudades forçadas. Foste tão forçado e não foi a me amar, foi ao me amar. Ao chegares. Ao vires para os meus braços, ao arrancares-me de onde estava. Do sossego onde vivia. E onde era feliz. Trouxeste mais cor, dizias tu, mas agora sei que preferes o preto e o branco. O cinza, quiçá. O 8 e o 80, tudo ou nada. Existir ou desaparecer por completo. E eu não sei se te acuse ou agradeça - eu nem sei distinguir se exististe ou não. 
Foi como acordar de um sonho que foi realidade, bater com a cabeça propositadamente, curar uma ressaca, beliscar, abrir os olhos. Gritar e conseguir-me ouvir. Agarro num cigarro e tento bebericar do copo de vinho que trago na mão há mais de uma hora enquanto ouço os pássaros na rua. Eu hoje não quero ver o sol. Não quero calçar sapatos. Prefiro manter o cabelo desgrenhado e as olheiras vincadas. A música morre nas colunas e eu continuo encostada à parede. Para onde foste afinal? Será que eu existi? Será que sabes a falta que me fazes? Que preciso do teu abraço, do teu cheiro, do teu beijo? Será que tens noção de que me forçaste a seguir em frente? Que me empurraste, morreste, deixaste-me sozinha e eu tenho que fingir que nunca me aconteceste? Será que também te lembras das promessas que me fizeste, dos olhares que trocámos e dos abraços nos quais adormecemos?
 A apatia tem-me consumido e eu não merecia isto. Não depois de tudo o que fiz por ti, por nós. Por achar que eras verdadeiro, que existias, que me querias. Que nos querias. E por pensar que por sermos tão iguais, iríamos dar certo. Mal sabia eu que, por sermos tão iguais, só poderíamos dar errado. Não se completa um puzzle com duas peças iguais. Não se encaixa. Não forma nada. Continuam a ser apenas duas peças iguais - quão romântico é - que não formam absolutamente nada. Ou ingénua fui eu, por pensar que poderíamos criar algo diferente, que nunca foi inventado, porque tu, da tua maneira de viver a vida, anseias sempre por descobertas e eu pensei que me quisesses dedilhar e explorar. A todos os níveis. Ou sou vazia ou tu não és assim tão explorador ávido por desafios. No entanto, prefiro continuar a pensar que tu és um fraco. Que desististe antes do início. Que foste cobarde o suficiente para viver o que sentias e que provavelmente enganaste-te mais a ti do que a mim. Que triste que és. E no meio disto tudo, eu continuo aqui, de cigarro na mão, a beber o meu vinho e a ouvir música. Não obstante das circunstancias, prefiro acreditar que estou melhor do que tu, para não ficar pior do que já estou.
Cansei.
Acho que me cansei. Os sintomas já desapareceram completamente. O coração não dispara, as bochechas continuam com sua cor natural, as mãos não suam. Não me sinto ingénua, estou atenta. Agora, quando as tuas palavras chegarem novamente, vão encontrar respostas rápidas e secas. Não acho o teu sorriso tão lindo quanto antes. Não quero desmerecer as tuas qualidades ou cuspir no prato que comi. Aprendi muita coisa contigo, principalmente o que não fazer. Alguém precisava gostar, amar, decepcionar e escrever um texto.
Nunca imaginei que seria eu, mas acho que me curei.
Sabes qual foi o antídoto? Amor próprio.

Ninguém aguenta viver na corda bamba por muito tempo e eventualmente um de nós acabaria por cair. Caímos os dois. E mesmo com as mãos entrelaçadas, fomos embora sozinhos.