Leitor

This rain.

“I don't want to be alone, I want to be left alone.”




Os grandes amores são assim mesmo, dão-nos o caminho da emoção, mas os sentimentos de verdade são apenas nossos, ninguém copia, ninguém leva, ninguém divide. E eu sinto falta da perdição involuntária que era congelar na tua presença tão insignificante. Era a vida a mostrar-se mais poderosa do que eu e minhas listas onde anoto o certo e errado. Era a natureza a provar-me ser mais óbvia do que todas as minhas crenças. Não mandava no que sentia por ti,  não aceitava, não queria e, ainda assim, era inundada diariamente por uma vida trezentas vezes maior que a minha. Eu amava-te por causa da vida e não por minha causa. E isso era lindo. Tu eras lindo. Simplesmente isso. Tu, uma pessoa sem poesia, sem dor, sem assunto para aguentar o silêncio, sem alma para aguentar apenas a nossa presença, sem tempo para que o tempo parasse. Tu, a pessoa que eu ainda vejo a passar no corredor e a levar-me embora, responsável por todas as minhas manhãs sem esperança, noites sem aconchego, tardes sem beleza.
Sinto falta de quando a imensa distância ainda me deixava ver-te do outro lado da rua, a passar apressado com teus ombros perfeitos. Sinto falta de me lembrar que tu vias tanto, que preferias fingir que não vias nada. Sinto falta da tua tristeza, disfarçada em arrogância, de não prestares atenção, de não teres nem amor, nem vida, nem paciência, nem músculos, nem medo, nem alma suficientes para me prender.
Prometi não tentar entender e apenas sentir, sentir mais uma vez, sentir apenas a falta de tocar na tua pele lisa, nos teus lábios, sinto falta do mistério que era amar a última pessoa do mundo que eu amaria.
Tenho um milhão de motivos para fugir de pensar em ti, mas em todos esses sítios tu vais comigo. Seguras a minha mão na hora de atravessar a rua, olhas-me triste quando eu olho para o telemóvel pela milésima vez, sentes orgulho de mim quando solto uma gargalhada e viras a cara se algum homem vem falar comigo. Preferes não ver, mas eu vejo-te o tempo todo.
Acho normal. Acho perfeitamente normal lembrar com carinho e saudade o facto de que tu arranjavas sempre maneira de me mandar mensagens em datas festivas. Estivesses tu casado ou a namorar ou preso num templo budista, arranjavas sempre maneira. Era como se dissesses, sem dizer “eu sei que já passou muito tempo, mas ainda te amo”.

és

Há uma coisa arbitrária que eu tenho para te dizer: tu tens o meu tipo preferido de beleza, que é a beleza que surge da felicidade profunda. É isso que eu vejo quando olho para as tuas fotografias; penso sempre "uau, que pessoa feliz!" e é isso que nos torna mesmo bonitos. A minha boca ainda não se calou desde que tu a beijaste. A ideia de que poderás, eventualmente, beijá-la novamente ficou presa no meu cérebro, que ainda não parou de pensar em ti desde que, bem, antes de qualquer beijo. E agora a prospetiva desses beijos parece atingir-me como um furacão quando sobes as escadas e páras num degrau para olhar para mim. Certas pessoas são assim, um olhar meigo, uma maneira doce de ser, uma beleza indescritível, gestos, modos, falar, pensar e agir. Que nos vão cativando, conquistando, e quando damos por nós, estamos ali, a admirar, sem nada a dizer, para alguém que é belo, pelo simples facto de existir.