Leitor

Discórdia




Puxo-te mais para dentro de mim, mesmo estando tu a dormir que nem um anjo sem passado, a meu lado. Deixo os meus dedos tocarem todos os milímetros incandescentes do teu corpo e sinto o tremor subir-me pelas entranhas. Hmm.
Peco tanto em pensamentos que chamar-me-iam de puta, se mos lessem.
Ligo o candeeiro preto que comprei na feira quando fomos passar o fim-de-semana ao norte, preciso ver as horas. 

Já passam das 5 da madrugada, está um vento devastador na rua e eu não consigo desviar o meu olhar de ti. Tão quente. Espinhas de sol entranhadas na minha mente. Ardes-me e nem te apercebes.
Não te dei parte fraca até hoje e, contendo uma ou outra lágrima teimosa e invulgar que me nada nos olhos, levanto-me e vou à janela ver o tempo passar. Os cães estão a ladrar e sinto a brisa noturna penetrar-me de tal maneira nos pulmões que me sinto cheia. Há tanto tempo que não me sentia cheia.
Reparo na tristeza de um homem que por ali vagueia, na incerteza do seu trajeto e propósito. Vi-me ali. Tocas-me. Vim-me ali. Passeias as tuas mãos pelos meus seios redondos e prendes-me em ti, cheio de fome e tesão. Se não te chego ao coração pelo menos que te chegue o meu corpo. Deixo-me levar até à cama mas deixei o pensamento naquele homem sem propósito, que chutara uma lata em frente à minha janela, enquanto a agonia lhe colhia as expressões. 

Chama-me, egoísta e narcisista até, mas chama-me. E continua-me a chamar.
Quem me garante que daqui a dez anos ainda me elogias?

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