Leitor

Não sei a mulher que sou mas sei bem a mulher que não sou. Chega de pragmatismos, práticas de eloquência e bem-dizeres. Ambos sabemos o que vales, eu mais que tu por não ter o filtro que é o teu ego no meu olhar. Chega-te para lá, já que nada chegas a valer. Vestes as palavras mas és mau de língua. Pior ainda, és terrivelmente mau de carácter. De que te serve ter 26 letras na boca pintadas de cor mágica se a verdadeira magia é aquela sobre a qual não lhe descobrimos os truques? E eu já descobri os teus.

Anda, denuncia-te aos sete ventos e cai desse teu pedestal. Já não ganhas nada em ludibriar os sentidos alheios e pior ainda, em enganar-te a ti próprio. 

A verdade está sempre a olhar para nós, à espera do tropeção, ansiando pelo momento em que caímos de boca, em que ficamos em merda, para nos atirar à cara tudo aquilo que não quiséramos ver. Tu não vês aquilo em que te meteste? Será que não reparas na hipocrisia em que vives, nos falsos sermões, nas ilações desesperadas de palavras treinadas? 

Eu sei que tens treinado. Tudo o que consegues dizer são frases alheias à situações, aprendizes de manias, sabendo exactamente com que entoação são ditas no momento da discórdia. É. Tenho que admitir que soubeste treiná-las bem. Recebe agora o conselho de uma parva, cujas palavras são soltas e por vezes sem nexo frásico. Tão nuas de figuras de estilo quanto de magia. Nunca as treinei. Nunca quis fazer mais do que sou, nunca as decorei, nunca soube o sabor de ludibriar alguém com 26 coisas tão pequenas. Nem me dou ao trabalho. Só te aconselho a que descubras o homem que não queres ser. Já que o homem que queres ser, tu não o és.

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