Leitor

Orangetree



Fizeram-nos acreditar que o amor mesmo, aquele amor verdadeiro, só acontece uma vez, geralmente antes dos 30 anos. Não nos contaram que o amor não é racionado nem chega com hora marcada.

Fizeram-nos acreditar que cada um de nós é a metade de uma laranja, e que a vida só ganha sentido quando encontramos a outra metade. Não contaram que já nascemos inteiros, que ninguém na nossa vida merece carregar nas costas a responsabilidade de completar o que nos falta: nós crescemos através de nós mesmos. Se estivermos em boa companhia, é só mais rápido.

Fizeram-nos acreditar numa fórmula chamada "dois em um", duas pessoas que pensam igual, agem igual, que isso era que funcionava. Não nos contaram que isso tem nome: anulação. Que só sendo indivíduos com personalidade própria é que poderemos ter uma relação saudável.

Fizeram-nos acreditar que o casamento é obrigatório e que desejos fora de hora devem ser reprimidos. Fizeram-nos acreditar que os bonitos e magros são mais amados, que os que têm pouca libido são para serem postos de lado, que os que têm muito não são confiáveis, e que sempre haverá um chinelo velho para um pé torto. Ninguém nos disse que chinelos velhos também têm o seu valor, já que não nos aleijam, e que existem mais cabeças tortas do que pés.

Fizeram-nos acreditar que só há uma fórmula de ser feliz, a mesma para todos, e os que escapam dela estão condenados à marginalidade. Não nos contaram que estas fórmulas são erradas, 
frustram as pessoas, são alienantes, e que poderíamos tentar outras alternativas menos convencionais.

Luto por um mundo onde não se acredite na metade da laranja
Voto por um mundo de seres mais conscientes, mais realistas; um mundo mais atual e menos fantasioso.
Sonho em viver num mundo onde ao me relacionar com alguém, ele não me delegue a responsabilidade de o fazer feliz.
Porque a metade de ti não existe, tu já nasceste completo.
Que sejamos felizes sozinhos, de forma individual. Que o outro seja apenas a pessoa com quem gostas de caminhar, e não as tuas 
muletas.

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