Leitor

dá corda

~ even a broken clock is right twice a day ~



Eu jamais teria chegado onde cheguei se só andasse em linha reta. Tive que voltar atrás, andar em círculos, perder dias, perder o rumo, perder a paciência e desaparecer em tentativas aparentemente inúteis para encontrar um quase endereço, uma provável ponte: a entrada do encontro. Acertei o caminho não porque segui as setas, mas porque desrespeitei todas as placas de aviso. Se tivesse seguido o suposto, se caminhasse sempre com as mesmas pessoas a meu lado, se agarrasse sempre na mesma mão eu não conheceria nada para além do que já conhecia quando estava na linha de partida. Não tinha cortado a meta a tempo e teria desistido a meio do caminho porque sim, porque é aborrecido correr atrás de algo que já se tem. Eu costumo voltar atrás porque não tenho compromisso com o erro. Porque ele não me deve nada e eu consigo mandá-lo embora se assim o quiser. Nós só aceitamos aquilo que nos é permitido. E temos que, veementemente, ignorar tudo aquilo que nos atrasa a vida. Mas nunca - nunca mesmo - ter medo de dar um passo atrás. Porque voltar atrás é melhor do que perder-se no caminho.

É impossível mudar aquilo que foi feito, seguir em frente é arriscado mas deixar tudo como está, é uma enorme covardia para quem quer alcançar os louros da própria honra. Às vezes é preciso arriscar-se em algo que seja verdadeiramente importante na nossa vida. Ganhar ou não, é do jogo. Sendo assim, se eu tiver que perder algo por que(m) tenha muito apreço, só por acreditar nos meus sonhos e nas minhas convicções, que eu perca tudo, então. Ainda que eu me sinta intimidada pelo medo de mudar tudo na minha vida, quero vestir-me de coragem e armar-me de ousadia para enfrentar todos os obstáculos perfilados à minha frente. Se eu insistir em exigir mais de mim mesma, é para que um dia eu não me lamente por não ter tido coragem de romper os meus limites e me aventurar por onde eu ainda não estive.

E se tivesses a oportunidade de voltar atrás? Consertar o erro, mudar o destino. O que fazias? Repetias tudo? Deixavas as coisas como estão? Não fazias nada?
E se pudesses parar no tempo, pararias em qual momento?
Eu repetia tudo. Mesmo tendo cometido erros, acertos, sofrimentos, apegos. Mesmo que naquele exato momento eu desejasse não voltar a lembrar-me disso. Digo mais, se eu pudesse voltar no tempo, não só faria tudo de novo, como aproveitaria mais cada momento que tive. Independente de ter sido certo ou não. Tentaria não cometer os mesmos erros que cometi, e tentaria não deixar que cometessem erros comigo. Mas já que não podemos voltar no tempo, resolvi deixar o tempo e o destino dizerem-me o que vai acontecer. Prefiro não me importar.

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