Leitor

something my soul needs





No one can hate you more than someone who used to love you.


Hoje, não te olho mais para a cara. Tenho que te encontrar todas semanas, mas não te olho mais para a cara. E isso chegaria a atormentar-me um bocadinho, não fosse o lixo que me sinto em teu redor. Não há o que justificar, não quero ouvir a tua voz e só de pensar nisso sinto náuseas. Como é possível sentir tanta repulsa de alguém? Como é que alguém é incapaz de se sentir responsável por aquilo que cativa? Alhear-se, fingir que não existe, conseguir deitar a cabeça na almofada todas as noites sem ponta de arrependimento. De sentimento. Se eu te detestasse, a questão seria definitivamente mais simples. É a rejeição que dói. É saber que te quero odiar. Se eu pudesse, tornar-me tão igual a ti para finalmente poder ter uma boa noite de sono. 

Só queria poder despir o amor de sacrifícios, para mantê-lo longe de cobranças negativas e, consequentemente, de expectativas exageradas e prováveis decepções. E o mais engraçado é que sei que apenas preciso resgatar o essencial desse sentimento que é a incondicionalidade. Dar o amor sem quantificá-lo para transformá-lo em dívida, sempre a imaginar o que virá em troca de tal esforço. É pena que teime em apostar tudo para perder, em ficar sem os pés no chão porque julgo que me seguram. No momento seguinte, já não tenho a mão de ninguém.
No momento seguinte, já amo. E fico com a plena noção de que não seria metade daquilo que sou sem ti. É o ódio profundo que me dá forças para continuar em frente. E só quero continuar a odiar-te para sempre, vaguearia insegura pelas ruas se não conseguisse, sem saber o que fiz de tão errado para ser incapaz. Gostava que soubesses que sei que falas de mim sempre que tens oportunidade e esse tipo de propaganda não tem preço: ainda mais quando é assim tão enfática. Eventualmente todos ficam interessados em conhecer uma pessoa assim tão igual a ti. 
Tão diferente de ti. E convenhamos, não existe maior elogio do que ser odiada pela pessoa que mais se odeia, pelos mais odiosos motivos.Acaba por funcionar como aqueles exames médicos mais graves, em que "negativo" significa o melhor resultado possível. No fundo, deverias ser grato. Eu podia estar a fazer outras coisas - a cuidar da minha própria vida, a dedicar-me mais ao trabalho, a estudar. Mas não, eu preciso gastar o meu precioso tempo a odiar-te. A tentar com todas as minhas forças, pelo menos.

Bem, e como já deves ter percebido, isto é uma carta de amor. E não lhe podia faltar as promessas:
eu prometo nunca fazer algo que gostes, nunca mais. Muito pelo contrário, todos os dias tento ser aquela pessoa que dizes que não querias ter na tua vida. Sem valores. Sem moral. Sem princípios. De traços errados e mente muito pouco ingénua. Eu quero que fiques ainda mais nervoso quando nos cruzarmos. Prometo não mudar, principalmente nos detalhes que tu mais detestas. E sem esquecer que preciso continuar a tentar encontrar novas maneiras de te deixar irritado. Prometo, por último que, se algum dia, numas das voltas que a vida dá, tu me deixares de odiar sem qualquer motivo aparente, não vou lutar para te dar uma segunda chance. Porque o oposto do amor não é o ódio e sim a indiferença. E eu já luto tanto para que, mesmo que não me queiras amar, me odeies, que não suportaria sequer pensar em começar do zero. Porque eu não sou daquelas pessoas que se esquece de quem gosta. De quem não gosta, principalmente.

Tenho pena que não me estejas a ver neste momento, inclusive, pois verias o meu sincero sorriso de agradecimento - e ficarias a odiar-me ainda mais.

Mas eu sei que tenho que te continuar a ver todas as semanas. E que vou continuar a não olhar para a tua cara. Num desejo desenfreado de criar uma ausência grande. Preciso de uma ausência. Desesperadamente. Tanto é um remédio contra o ódio como uma arma contra o amor. E eu preciso urgentemente de ficar sem um dos dois.







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