Leitor

9crimes

Hoje carregas-me os prantos e os enganos, as malícias desaparecidas na escuridão que me cerca, o peso que eu tinha nas costas. Levas-me a luz que encandeia, as pedras nas quais tropeço, as roupas que me aquecem. Deixas-me nua de ti, ansiosa por um pouco mais. 
Tiras-me o sossego e a paz, a alegria que me distrai, a saudade que teimou em ficar. 
Agarras-me os abraços cansados, as palavras proferidas, as escolhas erradas.
Hoje ficas só um bocadinho para me lembrares que fiquei sem nada.
Que cada vez que me reviro na cama, procuro o teu colo para me acolher. Que ainda finjo sentir o teu cheiro pela casa. Que me tocas e me falas em surdina. Eu ainda ponho dois lugares na mesa na esperança que apareças para jantar. Deixo as luzes acesas porque acho que existe aqui mais alguém para além de mim. Mato os cigarros, um a um. Mato-me, um a um. E tu podias morrer dentro de mim, porque só essa morte me falta. Carregas-me a monotonia e a simplicidade. Levas-me o desespero e a esperança. Deixas-me a olhar para o vazio, porque é o que me resta. Tiras-me o juízo, tiras-me a loucura. Tiras-me a vontade e eu só sei desejar-te. 
Levo o peito cheio de ti, e tu já nem dás por nada...

Sem comentários:

Enviar um comentário