Leitor

Armadura ;

À medida que crescemos, somos forçados a experienciar aquilo que nos faz crescer; torna-se uma bola de neve irremediavelmente pesada para nós próprios. Uma situação de reação-ação que acaba por ser uma capicua literal. Vai sempre dar tudo ao mesmo: quer erremos ou acertemos, acabamos por crescer. O problema reside exatamente quando descobrimos que não nos é possível crescer mais. Nem mais um bocadinho. É quando parte de nós quer voltar atrás e a outra parte pede incessantemente que não nos percamos mais no passado. É quando temos que mostrar ao mundo o quão crescidos estamos, que tudo correu como planeado ou então que somos um protótipo falhado, um gasto de energia. Uma perda de tempo. É só nisso que nos fixamos quando não nos pedem nada mais que isso: provas. Testes. São-nos apresentadas situações-limite, casos de vida ou de morte, em que o mais acertado seria morrer; mas queremos tanto ter um bocadinho mais de vida. Nem que seja para provar isso a nós mesmos. Nem que seja para calar alguém. Acabamos tão apagados que uma mínima luz acaba por nos encandear. Tira-nos a visão. Acaba com o futuro perfeitamente planeado porque nem sempre conseguimos controlar tudo o que existe à nossa volta. Tornamo-nos uma espécie de robot automatizado, mais que programado para corresponder às expectativas alheias, porque se os outros nos virem felizes, nós estamos felizes (?). Afinal, crescer é isso. É aprender até que ponto podemos tornar-nos impenetráveis. É saber exatamente quando desmoronar. Com quem desmoronar. Não é qualquer pessoa que terá esse privilégio: ver-nos crescidos. 
Todos os dias vejo adultos que ainda não cresceram. Vejo pessoas chorarem com alma e rancor.. Assisto a separações, admiro beijos. Invejo abraços. Reparo em olhares, pressinto toques. Contemplo sorrisos. Acabo por constatar que afinal, é tão mais vantajoso crescer do que ser crescido... E no meio dessa constatação, vou rezando aos céus para que, quando chegar a minha hora, quando for o momento de me assumir como uma pessoa crescida, que tenha um porto seguro. Onde possa deixar de ser quem sou. Porque ninguém sabe viver consigo mesmo por muito tempo. Eventualmente acabamos por enlouquecer de tanta sobriedade, e é tão difícil mantermo-nos sãos neste mundo de loucos. Porque sei que precisarei de um lugar onde possa ser louca. Preciso de um sítio onde me tirem a roupa e me toquem na alma. Que me cubram de esperança e me envolvam em compreensão. Um cantinho onde eu possa voltar a crescer só mais um bocadinho, que me acrescente, que me evolua. Um quartinho em que eu possa pensar que só preciso de ser crescida da porta para fora, que só os outros precisam de ver que sou impenetrável. Que não choro. Que não sofro. Que não sinto. Amor. Dor. Raiva. Angústia. Eu preciso da minha bolha. 

Eu preciso de uma pessoa que seja esse lugar. 

"Most people don't grow up. Most people age. They find parking spaces, honor their credit cards, get married, have children, and call that maturity. What that is, is aging."


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