Leitor
the unforgiven
Durante muito tempo tentei que as coisas mudassem. Fiz mil discursos,
queixei-me, incentivei, sem nunca ver mudança alguma. Tinha os meus
momentos de desesperança, mas depois levantava a cabeça e estava
novamente pronta para tentar. Mais uma vez ouvia as desculpas e
promessas que eu já conhecia, mas acreditava sempre. Só assim eu teria
forças para continuar a sonhar e a suportar o facto de não estar a ser
como eu sempre sonhara. Mas as palavras gastaram-se, a espera excedeu-se
e eu em vez de
olhar para fora, como sempre tinha feito, olhei para dentro. Exigi de
mim, dominei a parte mais indominável de mim mesma, controlei a maneira
de ser intempestiva, impulsiva, deixei de parte as exigências e as
palavras que eram tantas vezes fonte de problemas. Senti-me bem, senti
que tinha cumprido a minha missão, e mais uma vez pensei que a partir
dali seria sempre a melhorar. Não foi. Como se costuma dizer "quando um
não quer, dois não dançam", e só eu estava a querer dançar. Na verdade,
também querias, mas querias dançar sem música. Mas onde é que já se viu
dançar sem música? Mais uma vez ouvi promessas, mas descobri que tinha
perdido a capacidade de acreditar, e por isso também tinha deixado de
sonhar. No lugar dos sonhos ficou a angustia de não saber mais o que
fazer, de querer mas não puder. Falta-me a coragem, sabedoria e
paciência para enfrentar tudo de cabeça levantada. Falta-me coragem para
ser feliz.
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