Leitor

amo-te, e daí?




Eventualmente com o passar do tempo, aprendemos que as palavras não passam de apenas letras solitárias e melancólicas que se agruparam apenas para nos favorecer. É tão mais fácil conseguir comunicar com alguém que não entende o que o silêncio lhes diz. A meu ver, e pouco crente que me tornei, avaliamos demasiado aquilo que dizem em detrimento daquilo que nos tentam demonstrar. Mesmo que seja o contrário. Mesmo que no nosso íntimo, saibamos que não era bem aquilo que queríamos ouvir. Ou que queriam dizer. Ou que queríamos dizer. Vejo tanta gente colocar pontos finais no meio de frases sem sentido que me faz questionar se realmente as palavras valem aquilo que as fazemos valer. Especificamente, não entendo realmente o porquê de valorizarem tanto um "amo-te". Porquê? Porque não acreditam na veracidade do momento? Só se ama para sempre? Quem disse? Quem demonstrou? Quem fez decreto-lei para além do que nos passa no coração e principalmente na cabeça? Só podemos amar se soubermos que é para sempre. E por julgarmos que é sempre e para sempre é que amamos sem que nos avisem que o prazo de validade expira. Todos os prazos expiram. Não seria demasiado utópico acharmos que tudo o que amamos dura para sempre e que amarmos é para sempre? Quem diz que o amor não morre? Há amores pequenos, aqueles amores intensos que nos fazem acreditar que o momento é perpétuo, incrivelmente perfeito. Não seríamos demasiado hipócritas se não achássemos que a pessoa que amamos não muda e, consequentemente, o amor que existe? Quantas pessoas amamos na vida? Melhor ainda, quantas pessoas já amámos na vida? Pessoas que na altura, não nos veríamos sem. Porque era inconcebível imaginar um único segundo sem a presença dessa pessoa na nossa vida. E, no entanto, continuamos a amar, à distância, em silencio, em esquecimento. Porque ela realmente saiu da nossa vida. Ou fomos nós que a mandámos embora. Mas nas memórias que existem ainda há os tais momentos em que amámos tanto e tão bem que sabe amar só uns momentos a mais. Se me disserem que agora já não amam alguém eu acredito. Ou então não. Porque no fundo eu confio no que sinto, e acredito piamente que afinal, os amores não morrem. Transformam-se e ganham outra palavra. Era tão mais fácil se olhássemos para alguém e pensássemos "és tu. escolho amar-te porque amar é para sempre e parece-me que é contigo que quero passar o resto da minha vida". Seria demasiado alheia a tudo se julgasse que os amores de adolescência não existem uma vez que uma pequena minoria prevalece ao longo do tempo. Mas não é por isso que deixa de ser amor. Existem tantos amores para viver. Porque não é amor. É um sentimento pleno, sincero, sem termos nem nomes, e quem for capaz de o mencionar está erroneamente certo. Porque é isso que é suposto. Dizer que amamos alguém. Porque é o que essa pessoa quer ouvir. Porque gostamos dela, porque gosta de nós. E principalmente porque no momento em que amamos o futuro é previamente delineado de tal maneira a que não exista mais ninguém. A que ninguém mude. A que não existam caminhos diferentes e escolhas difíceis. Com objetivos semelhantes. Mas nunca é assim.
O futuro é tão escuro quanto o céu noturno que nos sobrevoa durante os sonhos. Existe sempre mais alguém. Não estamos sozinhos no mundo. E todos nós mudamos também, crescemos, amadurecemos. Vivemos, experienciamos. Há mil e um caminhos diferentes a percorrer e o quão bom é saber que podemos dar um passo atrás para sermos um bocadinho mais felizes. E cada caminho é traçado pelo objetivo que temos. Quem são vocês para dizer que têm apenas um objetivo na vida e que esse objetivo é imutável? Teríamos que ignorar o que queríamos ser ou ter enquanto crianças. Quantos de nós mudaram de ideias sobre a pessoa que queríamos ser quando fôssemos adultos? Não temos também o direito de mudar de ideias em relação ao que sentimos? Não confundamos; contra mim falo se disser que não importa os sofrimentos e a dor sentida no momento da escolha, do erro, das decisões precipitadas e das palavras proferidas momentaneamente e sobrevalorizadas. Existem mais 7 biliões de pessoas no mundo. Como sabemos nós que o amor que sentimos agora não pode ser ultrapassado em plenitude e perpetuidade? Mas nós nunca sabemos. E acabamos por amar só o que conhecemos. Uma e outra vez. Com desilusões amorosas, com corações partidos. Magoamos e somos magoados porque sim, porque amamos e deixamos de amar. Porque amámos e não fomos amados. Só acho que não devia haver juramentos de veracidade nem sinceridade. Porque eu não critico quem diz que ama. Nem gosto que me critiquem quando digo que amo. Muito menos que o refutem. Nunca fui de meias palavras nem de enganos propositados. 
Acredito sim que podemos amar. Que devemos amar e mais importante ainda, que devemos dizê-lo. Como? Da maneira que melhor entenderem. Com um amo-te precipitado e espontâneo ou com um gosto muito de ti acanhado. Um abraço sincero ou um beijo de cortar a respiração. Afinal, é para sempre até deixar de ser. E não precisamos de palavras para descrever isso.  

É que o amor é cego e por vezes também é mudo


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