Leitor

rf.

Pediste-me para te escrever. Pediste que colocasse em palavras tudo o que vai na minha cabeça, no meu coração. Eu ter-te-ia dito que não consigo sequer escrever tudo o que sinto, mas por incrível que pareça, até as palavras me faltaram para te dizer tal coisa. Perdoa-me, perdoa-lhes. Elas não são como quero, eu não faço o que quero, eu nunca fui o que quero. Digo-te sim, para me entenderes. As minhas preocupações. Preocupa-me o facto de não tentares sequer entender-me. O que afinal se passa é o tempo. Tudo junto. Não me entrego a quem não tem coração para mim, ou sequer, um bocadinho de espaço lá. Eu sou grande, o meu afecto grande é, e não me consigo contentar com apenas um bocadinho de momentos quentes, de destrezas físicas e desejos curáveis. Eu desejo sempre: se não for um desejo efémero, deixa de ser desejo. Passa a ser só uma vontade. Nunca me contentei com vontades: farto-me depressa demais e a consciência cai em mim como se de um peso morto se tratasse. É por isso que te digo que mereço mais do que tu tens para me dar. Não gosto de acertar em incertezas, és como uma casa escura, sem luz, não sei onde são as portas para o caso de querer fugir. És um carcereiro. Também me é impossível controlar os sentimentos. Estou preenchida por um outro alguém, pode ser errado, aliás, eu sei que é errado. E mais errado ainda é sabê-lo. Mas o que hei-de eu fazer? Sempre tive uma queda para o impossível, prefiro lutar do que lutem por mim, não tem o mesmo sabor, nunca tem o mesmo sabor. Eu gosto de gostar dele, gosto de saber que é impossível e por sê-lo, concretizo-o a cada momento de desejo. É ele. E ele diz que pode ser para sempre. E se pode ser para sempre é desejo. É paixão. É amor.

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