Leitor

Se as palavras fossem só palavras e não passassem disso, diria-mo-las mais vezes. Se fossem apenas letras conjugadas com letras, fazendo sons por vezes irritantes, diria-mo-las muito mais vezes. Se as palavras fossem apenas palavras, não matavamos alguém com um não ou não daríamos uma vida com um sim. Se as palavras não passassem de palavras, de vazios, ocos e sem significado, de apatia, de melancolia fechada, sem sentido algum, eu dar-te-ia todas as palavras do mundo em troca de um gesto. As palavras são o que de melhor existe. O que existe de mais completo e vazio, de mais cheio e forte, imperativo e vago de pensamentos. E há palavras que por serem isso só, palavras, nos deixam a pensar. São ditas sem sentido e sem significado. São dadas como quem suspira, cheias de controvérsias e sentidos antagónicos. Dessas palavras eu não sei se gosto. Permite-me ler o que dizes em pensamentos, permite-me saber com quem estou a lidar. Mas permite-me cair em ilusões. Permite-me fazer ilações erradas, devaneios impróprios para pessoas como eu. O que gosto mais é de certezas. De palavras curtas e objectivas. Aquelas palavras que para serem mais floreadas vêm acompanhadas de um carinho, cafuné ou beijo. Ou uma chapada. Gosto de 8 e 80. Não consigo pensar em falar coisas regulares, odeio a simetria e odeio quem o faz. É por isto que me encanto com o ridículo e me canso do agradável. Porque eu sinto o que não deveria sentir por aquilo que me faz sentir. E como me encanto com o inteligente. O eloquente. O politicamente correcto. O da capacidade argumentativa. O perspicaz. Ao longo da minha vida estabeleci limites sociais... e o quão estou prestes a quebrá-los sem que ninguém perceba, sem que ninguém saiba. Eu não o digo em palavras. Nem palavras vazias nem palavras cheias. Eu guardo para mim. E é tão bom ter a cabeça e o coração cheios delas...

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